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16 de março de 2018

Da deriva continental às placas tectônicas: de que forma trabalham o planeta e a ciência

O conhecimento sobre como nosso planeta funciona e como nossa vida é afetada por este funcionamento dinâmico e cada vez melhor caracterizado e compreendido, foi a base da palestra que a Profª Draª Maria Cristina Motta de Toledo (EACH/USP) apresentou em mais uma edição do programa “Ciência às 19 Horas”, evento ocorrido no dia 16 de maio e que abordou o tema “Da deriva continental às placas tectônicas: como trabalham o planeta e a ciência”. Nessa palestra, a oradora abordou não apenas o que se conhece hoje acerca das placas tectônicas, seus movimentos, seus efeitos e conexões com outros processos da Natureza, mas de como esse conhecimento foi adquirido, por meio de uma longa evolução de observações, reflexões e discussões, utilizando o método científico.

A teoria da Tectônica de Placas tem sido cada vez mais divulgada nos meios de comunicação e verifica-se um interesse crescente com relação aos detalhes dos processos dinâmicos envolvidos e também com relação às razões pelas quais esta teoria se encontra tão fortemente estabelecida.

Convidada a falar um pouco sobre este tema, mesmo antes de sua apresentação, Maria Cristina Motta de Toledo referiu que a teoria da Tectônica de Placas tem sido cada vez mais divulgada nos meios de comunicação e verifica-se um interesse crescente com relação aos detalhes dos processos dinâmicos envolvidos e também com relação às razões pelas quais esta teoria encontra-se tão fortemente estabelecida. O movimento constante das placas tectônicas de nosso planeta tem impactos diretos sobre a vida que existe nele, e não só ao nível humano. A dinâmica interna de nosso planeta, o movimento quase constante dessas placas tectônicas é que provoca os terremotos e tsunamis e, com eles, algumas mudanças climáticas, a formação de recursos minerais e o crescimento de cadeias montanhosas, entre outros fatores.

Clique na figura abaixo para acessar a pequena entrevista concedida pela Profª Drª Maria Cristina Motta de Toledo antes de sua palestra.

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(Rui Sintra – jornalista)

16 de março de 2018

Água: Uma preocupação global

Para quem não sabe, a quantidade de água no nosso planeta sempre foi a mesma, tendo um ciclo permanente a que chamamos de “hidrológico”, no qual a água se encontra nas três fases: sólida, líquida e gasosa. Contudo, o grande problema que se coloca nesse tema é que a presença do homem, no planeta, se incompatibilizou com o precioso líquido, ao colocar demandas e pressões de todos os gêneros sobre as reservas aquíferas, especialmente nas águas interiores, doces, superficiais e subterrâneas, que correspondem, aproximadamente, a 2,5% de toda a água que existe no planeta que, como se sabe, é composto por grandes oceanos onde reside a maior parte da água.

O professor e especialista José Galizia Tundisi*, do Instituto Internacional da Água, afirma que existem grandes problemas relativos à quantidade de água no planeta, devido à incidência das atividades humanas e aos usos competitivos da água, diretamente ligados às águas doces e interiores, tanto superficiais, quanto subterrâneas, mas também há um problema muito sério de qualidade do líquido, que se traduz no conjunto de substâncias químicas e especificações que constituem todo o processo natural, pelos quais a composição química da água ocorre.

Na palestra ocorrida no dia 24 de setembro, no Auditório Prof. Sérgio Mascarenhas (IFSC-USP), no já conceituado programa “Ciência às 19 horas”, Tundisi manifestou sua preocupação em face à deterioração progressiva da água, ocorrida principalmente a partir dos últimos cento e cinquenta anos, especialmente relacionada à existência de metais pesados, substâncias radioativas e tóxicas em geral: com isso, a ameaça é séria quando se diz que a disponibilidade de água está cada vez menor, uma vez que esta qualidade deteriorada implica em custos mais elevados no tratamento, ou até na acessibilidade ao precioso líquido.

Por outro lado, segundo Tundisi, as águas deterioradas têm impactos na saúde humana e, consequentemente, isso também se tem agravado ao longo dos anos. Em face de uma situação muito complexa, já que, adicionadas a essas problemáticas, existem também as mudanças globais que têm produzido desequilíbrios ecológicos, pode-se afirmar que o ciclo já não é o mesmo do passado, com profundas alterações detectadas em algumas regiões em que chovia normalmente, como no caso das nossas, no Brasil, onde tínhamos 1500 milímetros por ano, comparando, por exemplo, com este ano de 2014, em que tivemos, até agora, 1200 milímetros. Existe, de fato, um desequilíbrio ecológico, com grandes volumes de água de precipitação em algumas regiões, e secas severas em outras. Então, todo esse conjunto nos leva a uma situação de extrema vulnerabilidade da espécie humana, com relação à água, explica Tundisi.

Todavia, ainda existe outra componente que não está muito bem clara, quer para os economistas quer para a população, que é a questão de se saber qual é a quantidade de água que é necessária para manter o planeta funcionando, sem que se leve em conta os usos múltiplos da água pelo homem – a água necessária para manter os ecossistemas, para manter as plantas, para as atividades humanas, enfim, para manter todos os ciclos. É uma questão importantíssima ainda não respondida, até porque isso é o que mantém o fluxo da vida e dos nutrientes, o que agrava o sentimento de preocupação dos especialistas. A situação é bastante preocupante e é preciso que se tomem providências muito rápidas, no sentido de conservar mais água e, além disso, utilizar menos água nos volumes diários e em todas as atividades da água, sua reciclagem e reutilização. São medidas que devem ser tomadas de forma muito rápida, para que essa situação não se agrave, alerta nosso entrevistado.

Com o planeta sendo agredido dessa forma, o Brasil acaba por sofrer consequências diretas graves, já que, como já dissemos acima, o país possui áreas onde chove muito e outras onde não chove absolutamente nada, causando impactos negativos à sociedade e à economia. Será que essa disparidade poderá ser atenuada ou resolvida, politicamente? Para Tundisi, a resposta é afirmativa, desde que a diminuição ou resolução do problema passe por um processo de gerenciamento de alto nível, que envolva atividades e projetos estratégicos para o país. A solução do problema está além de qualquer ideologia política. É um projeto estratégico nacional do qual depende muito o futuro do país. Repare nas consequências desta seca de 2014, que ainda não são conhecidas em todos os seus contornos e em todas as suas diferentes rotas. Por exemplo, a falta de água levou a hidrovia do Tietê a ficar paralisada e isso teve como consequência um corte de cinco mil postos de trabalho, já para não falar nos imensos transtornos logísticos e aumento dos custos causados pela falta de transporte de milhões de toneladas de grãos que eram transportados por essa hidrovia e que hoje são transportados por terra, sendo necessários dez mil caminhões para deslocar esse mesmo volume de grãos. Ou seja, há um complexo problema de economia, poluição e contaminação e, portando, os efeitos diretos e indiretos de todo esse conjunto problemático não são conhecidos, complementa o pesquisador. Grave, também, é o fato da população ainda não ter compreendido a complexidade de todo esse problema, resumindo a questão à falta água nas casas, quando o assunto mais sério é a saúde pública, entre outros fatores relacionados com a qualidade de vida.

Tomando o exemplo de Israel, que conseguiu implantar medidas efetivas de gerenciamento de água através de grandes investimentos, de ciência e tecnologia de ponta, o Brasil também já poderia ter alcançado meta semelhante, segundo nosso entrevistado, se tivesse investido mais. Por exemplo, Israel investiu muito na dessalinização da água do mar e na construção de dutos para transporte e circulação de água, medidas essas que resolveram os sérios problemas que existiam, por exemplo, para o cultivo de plantas em áreas áridas. Inclusive, Israel tem tanques-rede de peixes em pleno deserto, com água dessalinizada, ou seja, há um investimento em tecnologia, que é preciso ser pensado para o Brasil, focando em duas vertentes importantes: a primeira é o investimento em tecnologias, em novas formas de tratamento de água e outros mecanismos, e, a segunda, a perspectiva de investimento em hard-science referente à água, como, por exemplo, a dessalinização, aplicando nanotecnologia ou outras novas tecnologias que permitam baixar os custos da dessalinização, não estando descartada a transposição (bem feita) de águas entre bacias, algo que é muito comum em países como China e Índia. Isso tem ajudado a minimizar os impactos da escassez, pontua Tundisi.

Na opinião do pesquisador, o Brasil tem que investir pesadamente em ciência e tecnologias voltadas à água, não só para conhecer os sistemas aquáticos e todos os seus funcionamentos, mas principalmente para resolver e solucionar problemas de abastecimento, de usos competitivos etc. Contudo, Tundisi admite o sucesso alcançado pelo Brasil no que diz respeito à governança da água. Nós temos uma lei avançada relativa aos recursos hídricos, aprovada em 1997, que tem um papel importante, porque ela sinaliza claramente a gestão por bacias hidrográficas e isso tem estimulado os comitês de bacias, fazendo com que a governança da água tenha melhorado bastante, mas mesmo assim é preciso que esses comitês sejam instrumentalizados por bases tecnológicas e científicas, de tal forma que eles possam, a partir daí, fazer um planejamento estratégico para cada bacia. O ideal é que estivesse bem clara e definida a disponibilidade, a demanda presente, demanda futura e os usos múltiplos de cada bacia hidrográfica, tendo em vistas as populações que cada uma delas serve, no sentido de se fazer um planejamento de longo prazo, incluindo todo esse conjunto de usos múltiplos, mudanças globais e escassez, para que se pudesse realmente ter uma gestão das águas, de uma forma mais adequada, completa o entrevistado, acrescentando que se existe uma crise de água no planeta e uma crise de governança, será necessário conciliar as duas, por forma a se atingir patamares mais adequados de disponibilidade de água.

Quanto ao processo de dessalinização, o professor Tundisi alega que, se ele fosse implementado no Brasil, resolveria, por exemplo, a problemática existente em todo o litoral nacional e, com isso, haveria água suficiente para abastecer o interior. Embora as preocupações sejam latentes, o certo é que ainda existe esperança. Temos água suficiente no Brasil, só que essa água não está bem distribuída. Enquanto na Amazônia tem um rio que descarga 225 mil metros cúbicos de água por segundo, diretamente no Oceano Atlântico, com uma população escassa, o sudeste tem uma população muito maior e muito mais atividade econômica e muito menos água disponível.

*José Galizia Tundisi é, atualmente, professor titular aposentado da Universidade de São Paulo e atua na pós-graduação da Universidade Federal de São Carlos, orientando mestres e doutores. É presidente da Associação Instituto Internacional de Ecologia e Gerenciamento Ambiental (IIEGA) e pesquisador do Instituto Internacional de Ecologia (IIE).

É professor convidado do Instituto de Estudos Avançados da USP e professor titular da Universidade Feevale (Novo Hamburgo RGS), atuando no curso de pós-graduação em Qualidade Ambiental. É membro titular da Academia Brasileira de Ciências e do “staff” do Ecology Institute- Excellence in Ecology ( Alemanha). É especialista em Ecologia, Limnologia, com ênfase em Gerenciamento Recuperação de Ecossistemas Aquáticos.

Atuou como consultor em 40 países nas áreas de Limnologia, gerenciamento de recursos hídricos, recuperação de lagos e reservatórios e planejamento e otimização de usos múltiplos de represas. Atualmente, dirige programa internacional mundial de formação de gestores de recursos hídricos para o IAP (InterAcademy Panne l- que representa 100 Academias de Ciências), sendo consultor de vários Projetos de Gestão de Recursos Hídricos a cargo do Instituto Internacional de Ecologia e de Gerenciamento Ambiental.

Tem 30 livros publicados e 1 livro no prelo, foi presidente do CNPq – Brasil (1995-1999) e presidente do projeto Institutos do Milênio. Tem 320 trabalhos científicos publicados e prêmios no Brasil no exterior.

Orientou 40 mestres e 35 doutores nas áreas de Ecologia, Limnologia, Oceanografia, Gestão de Recursos Hídricos e Gestão Ambiental. Foi assessor do Ministro de Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sandenberg, de 1999 à 2001. Foi presidente do Programa Institutos do Milênio do Ministério de Ciência e Tecnologia. Em 1999, fundou a Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia e Desenvolvimento Econômico em São Carlos.

(Rui Sintra – jornalista)

16 de março de 2018

O Pouso do Curiosity em Marte

Dialogar com o Prof. Ivair Gontijo é apaixonante, principalmente pela forma como ele consegue nos contagiar ao descrever seu trabalho, seus receios e sucessos, num ambiente altamente avançado em nível científico e tecnológico, como é o da NASA (EUA).

O mineiro Ivair Gontijo completou sua graduação em Física e mestrado em Óptica no Departamento de Física da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 1985 e 1987, respectivamente. Em 1988, mudou-se para a Escócia, onde obteve o doutorado no Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de Glasgow, em 1992, tendo, na sequência, trabalhado como pesquisador em lasers de semicondutores, detectores de luz e estudos de materiais, tanto na Universidade de Glasgow quanto na Heriot-Watt University, em Edimburgo, igualmente na Escócia. Em 1998, Ivair mudou-se para Los Angeles, Califórnia, onde trabalhou na University of California, Los Angeles (UCLA) por dois anos e meio, desenvolvendo novos materiais e dispositivos baseados em cristais fotônicos.

Uma decisão de mudar de área levou o cientista brasileiro a trabalhar entre 2000 e 2005 para empresas de comunicação por fibra óptica, como gerente de projetos. Com a migração da indústria de fibra óptica para a Ásia, Ivair mudou novamente de área, passando a projetar lentes esféricas para cirurgias de catarata em uma empresa de biotecnologia com fábricas na Califórnia, Suíça e Japão. Ivair já produziu duas novas patentes para a empresa e existe mais de um milhão de pessoas no mundo usuárias das lentes por ele projetadas. Desde 2006, Ivair trabalha no Jet Propulsion Laboratory (JPL), da NASA, em Pasadena, Califórnia. Em seu primeiro projeto, liderou a fabricação dos transmissores e receptores de micro-ondas para o radar que controlou a descida final, em Marte, do veículo exploratório Curiosity, sendo que, atualmente, Ivair trabalha em um projeto que visa enviar uma sonda para Europa, uma das luas de Júpiter.

Foi exatamente sobre a aventura do pouso do Curiosity, em Marte, que incidiu mais uma edição do programa Ciência às 19 Horas, que ocorreu no dia 26 de maio, no Auditório Prof. Sérgio Mascarenhas (IFSC-USP), onde uma vasta plateia se aglomerou para ouvir o Prof. Ivair Gontijo

Em entrevista exclusiva concedida à Assessoria de Comunicação do IFSC-USP, Gontijo considera-se um trapezista, alguém que passa a vida caminhando na corda bamba e que já se habituou com todos os solavancos e desiquilíbrios, mas que, simultaneamente, se sente confortável em estar nessa situação, até porque a regra é tombar algumas vezes e sempre voltar a subir na corda, continuando em frente. Com acentuado humor, Gontijo conta que na época em que começou a trabalhar em Los Angeles, na área de fibra óptica, pensou que finalmente poderia ficar rico, mas a empresa onde trabalhava acabou quebrando e, ao invés de ganhar muito dinheiro, em seis meses todos os funcionários da citada empresa estavam procurando novo trabalho.

Após esse incidente no percurso profissional de Ivair Gontijo. ele trabalhou em duas empresas de comunicação por fibra óptica e, logo em seguida começou à procura de empregos quando as indústrias de fibra óptica migraram para a Ásia, uma época onde cerca de trezentos mil engenheiros perderam seus empregos, no ano de 2003, nos EUA. Com o regresso de muitos técnicos e pesquisadores que se encontravam sediados na China, Índia, Brasil e um pouco por mundo, todo esse contingente regressou aos Estados Unidos, tendo migrado para outras áreas: Comecei a projetar lentes para cirurgia de catarata, numa empresa de biotecnologia. Nessa época, eu tinha enviado meu currículo para doze pessoas na NASA, sempre com alguma esperança, mas nunca recebi qualquer tipo de resposta. Na verdade, eu sempre digo que não sou bom para descobrir quais são as boas oportunidades na vida. Aquelas oportunidades que eu achava que eram as grandes oportunidades, nenhuma delas deu certo. Aquelas coisinhas, muito pequenininhas, que nem esperava que dessem certo, foram as que de fato abriram meu caminho. Coloquei o meu currículo num site relativo a uma conferência e foi assim que uma pessoa do Jet Propulsion, da NASA, entrou em contato comigo e me chamou para uma entrevista, recorda Ivair.

 

De repente, o veículo ‘Curiosity’ estava entregue a um cientista brasileiro

No Jet Propulsion, propuseram a Ivair o desenvolvimento de um projeto relacionado com lasers de semicondutores e uma semana depois descobriram que ele tinha experiência em montagens de circuitos de radiofrequência; aí, colocaram-no a trabalhar no projeto Mars Science Laboratory (MSL), que enviaria o jipe Curiosity para Marte: Na verdade, o MSL não tinha ninguém que soubesse trabalhar com radiofrequência, ou que tivesse uma visão ampla para mexer não só com física dos semicondutores dos dispositivos eletrônicos, como também colocar tudo aquilo numa caixa, transformando o conjunto em um dispositivo (transmissores de radar) que pudesse ser integrado com o resto da espaçonave. Foi assim que passei a gerenciar um grupo de técnicos só para essa finalidade, comenta nosso entrevistado. Essa equipe construiu o radar que mais tarde iria controlar a descida do Curiosity (com um peso de 900 Kg) em Marte: Se esse equipamento não funcionasse, o resto seria irrelevante, porque iria se transformar em um monte de ferro velho depositado em Marte. Aquilo tinha que descer, custasse o que custasse, e a missão do radar foi medir a altura que o Curiosity estava do solo marciano, bem como indicar a velocidade de descida. Sem essas medidas, todo o equipamento iria descer de uma forma descontrolada e iria virar um monte de ferro velho, mas no final deu tudo certo, afirma Ivair.

A descida do Curiosity, em Marte, foi acompanhada em rede nacional de televisão, nos Estados Unidos, com muita apreensão, pois todos sabiam que existiam milhares de razões e de problemas para que algo desse errado: afinal, controlar remotamente a descida do veículo, num ponto específico do planeta Marte, mesmo contando com o auxílio de dois satélites que já se encontram na órbita daquele planeta, não era tarefa fácil, embora toda a equipe da NASA tivesse dado o seu melhor.

Para Ivair Gontijo, os momentos finais da descida foram dramáticos. Toda a física aplicada naquele projeto estava certa, as ideias e cálculos estavam corretos, só que era um projeto de muitos detalhes: um parafuso mal apertado jogaria todo o projeto para o lixo. Então, se todos os detalhes fossem feitos de forma correta, o projeto iria dar certo: Eu só acreditei mesmo quando vi a primeira foto tirada pelo próprio Curiosity, com a sombra do veículo parado na superfície do planeta: e dava para ver, inclusive, as rodas dele. Durante a descida, parecia um ensaio, parecia que não era de verdade, foi tudo absolutamente perfeito. Não teve nenhum problema durante a descida, comemora Gontijo.

Após esse grande sucesso, a NASA decidiu entregar a Ivair Gontijo outra missão, esta para ser concluída daqui a aproximadamente dez anos e numa área completamente diferente da anterior: agora, o desafio de Gontijo é contribuir para o projeto de lançar uma sonda com destino a Europa – uma das luas do planeta Júpiter – colocando o equipamento em uma órbita muito próxima da superfície, com a intenção de um estudo mais aprofundado. Júpiter é coberto de gelo, e ele se move, se quebra, tem várias rachaduras e sai material lá de baixo. Parece que abaixo do gelo existe um oceano, água líquida, uma espécie de oceano global, prevendo-se que exista mais água aí do que em nosso planeta: Na Terra existe água, logo vida. É importante saber se existem essas condições propícias à vida na lua Europa, que também é a grande pergunta que fazemos sobre Marte; se existem essas condições, que chamamos de habitabilidade, a vida pode-se ter formado lá, também”, justifica Ivair.

(Rui Sintra – jornalista)

16 de março de 2018

Prof. Dr. Sylvio de Mello (IAG-USP) fala sobre “Planetas extra-solares gigantes e super-terras”

Subordinada ao tema Planetas extra-solares gigantes e super-terras, decorreu no dia 14 de agosto, pelas 19 horas, no Auditório Prof. Sergio Mascarenhas, no IFSC, mais uma palestra integrada no programa Ciência às 19 Horas, tendo como convidado o Prof. Dr. Sylvio Ferraz de Mello, pesquisador e docente do IAG-USP.

Nos momentos que antecederam sua palestra, o Prof. Sylvio trocou algumas idéias com a Assessoria de Comunicação do IFSC sobre a temática que iria ser apresentada e debatida: a paixão demonstrada pelo pesquisador sobre sua especialidade impeliu-nos a colocar uma primeira questão que, à primeira vista, parecia ter uma resposta relativamente fácil, mas que obrigou nosso convidado a fazer um compasso de espera para responder a ela: como é que está o nosso Universo? Ele está estável, equilibrado? A primeira reação do pesquisador foi: (…) essa é a questão mais fácil ou a mais difícil que vão colocar? (…) De fato, para o Prof. Sylvio de Mello, o que se sabe é que o nosso Universo está se expandindo cada vez com maior rapidez, o que traz algumas conseqüências, que não podem ser interpretadas como “perigos”:

Tudo no Universo está-se afastando graças a essa expansão, mas repare, eu estou falando num período de tempo muito grande. Daqui a bilhões de anos, se ainda houver vida na terra, não se enxergará as estrelas como hoje acontece, ver o céu estrelado, etc. Mas isso é uma conseqüência dessa expansão que falei, o que necessariamente não quer dizer perigo. E algo que se expande, necessariamente cria vazios: e é isso que está acontecendo, ou seja, a criação de enormes vazios – pontua nosso convidado.

Entrando diretamente no tema que iria apresentar, um dos aspectos que nos intrigou desde que lemos o resumo de sua palestra, foi a forma como se mede a velocidade com que uma estrela se afasta ou aproxima de nosso planeta, e o exemplo dado por Sylvio de Mello ajudou na compreensão.

Da mesma forma que se nota a diferença do som de um trem que se aproxima ou se afasta de você – primeiro um som agudo e logo, na sequência, um som grave, assim acontece com a velocidade das estrelas, só que através de sua coloração. As estrelas ficam mais vermelhas quando se afastam da Terra e ficam mais azuis quando se aproximam de nosso planeta; e é através dessa mudança de cor que é possível determinar suas velocidades. E é assim que também medimos, ou calculamos a expansão do Universo – explica o pesquisador.

Outro assunto que o Prof. Sylvio Mello abordaria em sua palestra foi a existência das designadas super-terras e como se distinguem no Universo. De fato, segundo o docente, temos elementos que permitem saber qual é a massa de cada planeta, sendo que essa mesma massa está diretamente relacionada à forma como o planeta interage com as estrelas mais próximas, até na sua própria rotação:

Se a massa de um planeta for grande, ele tem uma interação maior. Em alguns casos – poucos – foi já possível verificar que existem dois ou três planetas que têm uma massa três ou quatro vezes superior à massa da Terra e esses são os designados super-terras, eminentemente rochosos, maiores que o nosso planeta, mas muito parecidos com ele. Os demais planetas que se conhece são os gigantes, que nem Júpiter – explica o pesquisador.

Um Universo que se expande, que cria vazios de enormes proporções, sistemas planetários muito maiores que o nosso, super-terras e gigantes. Com esta imensidão universal, será a espécie humana a única forma de inteligência existente? Será ela única? Esta é uma questão que, certamente, milhões de pessoas já fizeram. Para o Prof. Sylvio de Mello, a resposta é: Seguramente, não! Para o nosso convidado, há a certeza de que devem haver outras formas de vida inteligente no Universo, só que nós ainda não as encontramos:

Eu acho que na escala de tempo em que as coisas acontecem – que é de bilhões de anos – a vida é um processo natural. Qualquer planeta parecido com a Terra, que tenha alguns bilhões de anos de idade, que tenha condições climáticas parecidas com o nosso planeta, tem todas as chances de aí aparecer vida: é uma conseqüência natural da química – as moléculas vão se combinando, vão formando aminoácidos e naturalmente surge a vida. Nada acontece graças ao sobrenatural, tudo acontece por mero acaso, de forma natural. O leão na caça gazelas e outros animais? Porque é que ele faz isso? Instinto de sobrevivência… Isso é algo natural, relacionado com a própria vida. Não há nenhum ser sobrenatural que obrigue esse leão a matar, a não ser a sua sobrevivência, que é uma das consequências naturais da vida – enfatiza Sylvio Mello.

Apaixonante, mas complexa, delicada e algo misteriosa, a Astronomia ainda é, de alguma forma, uma área pouco procurada pelos jovens estudantes e, a partir daí, torna-se complicado descobrir de que forma é que se podem atrair jovens para essa área do conhecimento. Para o palestrante desta edição do Ciência às 19 Horas, o problema coloca-se mais num vetor um pouco diferente.

Nós temos é que trabalhar para não espantar aqueles que se aproximam desta área do conhecimento e isso não é tarefa fácil. Numa certa proporção da juventude, a curiosidade existe – ou seja, existe a chamada vocação – e temos que preservar isso nos jovens através de novas e melhores técnicas de ensino; temos que, acima de tudo, ensinar os jovens a gostar de matemática, já que ela faz parte da vida de todos nós. E quem não gosta de matemática é porque foi vítima de um mau professor. O problema de preservar o interesse pela ciência é mais sério e mais importante do que criar o interesse pela ciência e isso tem que ser uma missão do ensino básico – conclui o Prof. Sylvio de Mello.

Quando exerceu as funções de diretor do IAG-USP, o Prof. Sylvio de Mello foi o responsável pela oferta do telescópio que ainda hoje se encontra em pleno funcionamento no Observatório Dietrich Schiel, do Setor de Astronomia do CDCC – Centro de Difusão Científica e Cultural, localizado no Campus I da USP, em São Carlos.

(Rui Sintra – jornalista)

14 de março de 2018

Da deriva continental às placas tectônicas: como trabalham o planeta e a ciência

O conhecimento sobre como nosso planeta funciona e como nossa vida é afetada por este funcionamento dinâmico e cada vez melhor caracterizado e compreendido, será a base da palestra. Trataremos não apenas do que se conhece hoje acerca das placas tectônicas, seus movimentos, seus efeitos e conexões com outros processos da Natureza, mas de como esse conhecimento foi adquirido, por meio de uma longa evolução de observações, reflexões e discussões, utilizando o método científico.

A teoria da Tectônica de Placas tem sido cada vez mais divulgada nos meios de comunicação e verificamos um interesse crescente com relação aos detalhes dos processos dinâmicos envolvidos e também com relação às razões pelas quais esta teoria encontra-se tão fortemente estabelecida.

Venha satisfazer sua curiosidade e compreender melhor como o planeta se tornou o que é hoje!

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Resenha

Maria Cristina Motta de Toledo

O Auditório “Prof. Sérgio Mascarenhas” (IFSC/USP) recebeu no dia 16 de maio último mais uma edição do programa “Ciência às 19 Horas”, desta vez com a participação da Profª Drª Maria Cristina Motta de Toledo (EACH/USP), que dissertou sobre o tema “Da deriva continental às placas tectônicas: como trabalham o planeta e a ciência”.

A teoria da Tectônica de Placas tem sido cada vez mais divulgada nos meios de comunicação e verifica-se um interesse crescente com relação aos detalhes dos processos dinâmicos envolvidos e também com relação às razões pelas quais esta teoria encontra-se tão fortemente estabelecida.

O movimento constante das placas tectônicas de nosso planeta tem impactos diretos sobre a vida que existe nele, e não só ao nível humano. A dinâmica interna de nosso planeta, o movimento quase constante dessas placas tectônicas é que provoca os terremotos e tsunamis e, com eles, algumas mudanças climáticas, a formação de recursos minerais e o crescimento de cadeias montanhosas, entre outros fatores.

Da deriva continental às placas tectônicas: como trabalham o planeta e a ciência
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Da deriva continental às placas tectônicas: como trabalham o planeta e a ciência

13 de março de 2018

Água: Passado, presente e futuro: Problemas e soluções

A água é essencial a vida. A água é também fundamental para a produção de alimentos, energia, navegação e recreação. Quantidade e qualidade de água serão discutidas nesta palestra, à luz de mudanças globais, atividades humanas, usos múltiplos. Gestão integrada de recursos hídricos e governança efetiva ao nível de bacias hidrográficas, é uma das soluções. Integrar ciência e tecnologia é fundamental na gestão de recursos hídricos.

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Resenha

Prof. Dr. José Galizia Tundisi

Para quem não sabe, a quantidade de água no nosso planeta sempre foi a mesma, tendo um ciclo permanente a que chamamos hidrológico, no qual a água se encontra nas três fases: sólida, líquida e gasosa. Contudo, o grande problema que se coloca nesse tema é que a presença do homem, no planeta, se incompatibilizou com o precioso líquido, ao colocar demandas e pressões de todos os gêneros sobre as reservas aquíferas, especialmente nas águas interiores, doces, superficiais e subterrâneas, que correspondem, aproximadamente, a 2,5% de toda a água que existe no planeta que, como se sabe, é composto por grandes oceanos onde reside a maior parte da água.

O professor e especialista José Galizia Tundisi, do Instituto Internacional da Água, afirma que existem grandes problemas relativos à quantidade de água no planeta, devido à incidência das atividades humanas e aos usos competitivos da água diretamente ligados às águas doces e interiores, tanto superficiais, quanto subterrâneas, mas também há um problema muito sério de qualidade da água, que, normalmente, se traduz no conjunto de substâncias químicas e especificações que constituem todo o processo natural, pelos quais a composição química da água ocorre.

Na palestra ocorrida no dia 24 de setembro, no Auditório prof. Sérgio Mascarenhas (IFSC0USP), no já conceituado programa Ciência às 19 horas, o Prof. Tundisi manifestou sua preocupação em face à deterioração progressiva da água, ocorrida principalmente a partir dos últimos cento e cinquenta anos, especialmente relacionada à existência de metais pesados, substâncias radioativas, tóxicas em geral e, com isso, a ameaça de que a disponibilidade de água fica cada vez menor, uma vez que esta qualidade deteriorada implica em custos mais elevados no tratamento, ou até na acessibilidade ao precioso líquido.

Água: Passado, presente e futuro: Problemas e soluções
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Água: Passado, presente e futuro: Problemas e soluções

13 de março de 2018

O pouso do “Curiosity” em Marte

Por mais de dois mil anos, a humanidade tem estudado o planeta Marte e grandes avanços foram feitos nas últimas décadas, com satélites terrestres em órbita marciana e veículos robotizados na superfície. Agora, já sabemos que Marte teve oceanos no passado, mas por alguma razão a água sumiu! No dia 6 de Agosto de 2012, o projeto MSL (Mars Science Laboratory) da NASA fez um pouso dramático, colocando na superfície de Marte o veículo “Curiosity”, de 900 kg, carregado de instumentos para estudar o planeta.

As várias missões para Marte, idealizadas e construídas no Jet Propulsion Laboratory, da NASA, em Los Angeles, e os detalhes da construção e lançamento do veículo “Curiosity”, serão abordados neste seminário. Além disso, a construção dos componentes mais críticos do radar que controlou os últimos 7 minutos da descida em Marte foi liderada pelo palestrante, que descreverá sua participação no projeto.

BIOGRAFIA DO PALESTRANTE:

O mineiro Ivair Gontijo completou a graduação em Física e mestrado em Óptica no Departamento de Física da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 1985 e 1987, respectivamente. Em 1988, mudou-se para a Escócia, onde obteve o doutorado no Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de Glasgow, em 1992. Na sequência, trabalhou como pesquisador em lasers de semicondutores, detetores de luz e estudos de materiais, tanto na Universidade de Glasgow quanto na Heriot-Watt University, em Edimburgo. Em 1998, Ivair mudou-se para Los Angeles, Califórnia, onde trabalhou na University of California, Los Angeles (UCLA) por dois anos e meio, desenvolvendo novos materiais e dispositivos baseados em cristais fotônicos. Uma mudança de área o levou a trabalhar entre 2000 e 2005 para empresas de comunicação por fibra óptica, como gerente de projetos. Com a migração da indústria de fibra óptica para a Ásia, Ivair mudou novamente de área, indo projetar lentes asféricas para cirurgias de catarata em uma empresa de biotecnologia, com fábricas na Califórnia, Suíça e Japão. Ivair já produziu duas novas patentes para a empresa e existem mais de 1 milhão de pessoas no mundo usuárias das lentes por ele projetadas. Desde 2006, Ivair trabalha no Jet Propulsion Laboratory (JPL), da NASA, em Pasadena, Califórnia. Em seu primeiro projeto, liderou a fabricação dos transmissores e receptores de micro-ondas para o radar que controlou a descida final em Marte do veículo “Curiosity”. Atualmente, Ivair trabalha em um estudo para enviar uma sonda para “Europa”, a lua de Júpiter.

(www.jpl.nasa.gov)


Resenha

Dr. Ivair Gontijo

O mineiro Ivair Gontijo completou sua graduação em Física e mestrado em Óptica no Departamento de Física da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 1985 e 1987, respectivamente. Em 1988, mudou-se para a Escócia, onde obteve o doutorado no Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de Glasgow, em 1992, tendo, na sequência, trabalhado como pesquisador em lasers de semicondutores, detectores de luz e estudos de materiais, tanto na Universidade de Glasgow quanto na Heriot-Watt University, em Edimburgo, igualmente na Escócia. Em 1998, Ivair mudou-se para Los Angeles, Califórnia, onde trabalhou na University of California, Los Angeles (UCLA) por dois anos e meio, desenvolvendo novos materiais e dispositivos baseados em cristais fotônicos.

Uma decisão de mudar de área levou o cientista brasileiro a trabalhar entre 2000 e 2005 para empresas de comunicação por fibra óptica, como gerente de projetos. Com a migração da indústria de fibra óptica para a Ásia, Ivair mudou novamente de área, passando a projetar lentes esféricas para cirurgias de catarata em uma empresa de biotecnologia com fábricas na Califórnia, Suíça e Japão. Ivair já produziu duas novas patentes para a empresa e existe mais de um milhão de pessoas no mundo usuárias das lentes por ele projetadas.

Desde 2006, Ivair trabalha no Jet Propulsion Laboratory (JPL), da NASA, em Pasadena, Califórnia. Em seu primeiro projeto, liderou a fabricação dos transmissores e receptores de micro-ondas para o radar que controlou a descida final, em Marte, do veículo exploratório Curiosity, sendo que, atualmente, Ivair trabalha em um projeto que visa enviar uma sonda para Europa, uma das luas de Júpiter.

Foi exatamente sobre a aventura do pouso do Curiosity, em Marte, que incidiu mais uma edição do programa Ciência às 19 Horas, que ocorreu no dia 26 de maio, no Auditório Prof. Sérgio Mascarenhas (IFSC-USP), onde uma vasta plateia se aglomerou para ouvir o Prof. Ivair Gontijo.

O pouso do Curiosity em Marte
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O pouso do Curiosity em Marte

13 de março de 2018

Planetas extra-solares gigantes e super-terras

Conhecemos hoje mais do que 700 planetas em órbita ao redor de estrelas próximas. A maioria desses planetas são gigantes, bem maiores do que Júpiter. Alguns deles, entretanto, são apenas pouco maiores do que a Terra.

A saga das descobertas de outros mundos teve início no século XX, com as primeiras buscas (infrutíferas) de pequenos movimentos das estrelas no céu, que pudessem revelar a presença de um planeta ao seu redor, e prosseguiu com enorme sucesso a partir da década de 1990 com medidas cada vez mais precisas das velocidades radiais das estrelas (efeito Doppler).

Hoje, podem-se medir variações na velocidade com que uma estrela se afasta ou se aproxima da Terra com uma precisão inferior a 1 m/s ( 3.6 km/h). A essas observações vieram se ajuntar observações de variação do brilho das estrelas capazes de revelar a passagem de um planeta pela sua frente. Foi desta forma que os telescópios espaciais CoRoT e Kepler descobriram as primeiras super-terras, planetas rochosos com grandes núcleos metálicos, maiores de que a Terra, mas bem menores que os gigantes análogos a Jupiter que predominam entre os planetas até agora descobertos.

Mais recentemente, os maiores telescópios instalados em vários pontos da Terra tem permitido obter imagens diretas de alguns grandes planetas perto de estrelas próximas, em geral muito jovens, mostrando os confins de sistemas planetários maiores do que o Sistema Solar, alguns dos quais ainda envoltos no disco de poeira que lhes deu origem.

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Resenha

Prof. Sylvio Ferraz de Mello

Subordinada ao tema Planetas extra-solares gigantes e super-terras, decorreu no dia 14 de agosto, pelas 19 horas, no Auditório Prof. Sergio Mascarenhas, no IFSC, mais uma palestra integrada no programa Ciência às 19 Horas, tendo como convidado o Prof. Dr. Sylvio Ferraz de Mello, pesquisador e docente do IAG-USP.

Nos momentos que antecederam sua palestra, o Prof. Sylvio trocou algumas idéias com a Assessoria de Comunicação do IFSC sobre a temática que iria ser apresentada e debatida: a paixão demonstrada pelo pesquisador sobre sua especialidade impeliu-nos a colocar uma primeira questão que, à primeira vista, parecia ter uma resposta relativamente fácil, mas que obrigou nosso convidado a fazer um compasso de espera para responder a ela: como é que está o nosso Universo? Ele está estável, equilibrado? A primeira reação do pesquisador foi: (…) essa é a questão mais fácil ou a mais difícil que vão colocar? (…) De fato, para o Prof. Sylvio de Mello, o que se sabe é que o nosso Universo está se expandindo cada vez com maior rapidez, o que traz algumas conseqüências, que não podem ser interpretadas como ?perigos?:

Tudo no Universo está-se afastando, graças a essa expansão, mas repare, eu estou falando num período de tempo muito grande. Daqui a bilhões de anos, se ainda houver vida na terra, não se enxergará as estrelas como hoje acontece, ver o céu estrelado, etc. Mas isso é uma conseqüência dessa expansão que falei, o que necessariamente não quer dizer perigo. E algo que se expande, necessariamente cria vazios: e é isso que está acontecendo, ou seja, a criação de enormes vazios ? pontua nosso convidado.

Entrando diretamente no tema que nosso convidado iria apresentar, um dos aspectos que nos intrigou desde que lemos o resumo de sua palestra, foi a forma como se mede a velocidade com que uma estrela se afasta ou aproxima de nosso planeta, e o exemplo dado por Sylvio de Mello ajudou na compreensão.

Da mesma forma que se nota a diferença do som de um trem que se aproxima ou se afasta de você ? primeiro um som agudo e logo, na sequência, um som grave, assim acontece com a velocidade das estrelas, só que através de sua coloração. As estrelas ficam mais vermelhas quando se afastam da Terra e ficam mais azuis quando se aproximam de nosso planeta; e é através dessa mudança de cor que é possível determinar suas velocidades. E é assim que também medimos, ou calculamos a expansão do Universo ? explica o pesquisador.

Outro assunto que o Prof. Sylvio Mello abordaria em sua palestra foi a existência das designadas super-terras e como se distinguem no Universo. De fato, segundo o docente, temos elementos que permitem saber qual é a massa de cada planeta, sendo que essa mesma massa está diretamente relacionada à forma como o planeta interage com as estrelas mais próximas, até na sua própria rotação:

Se a massa de um planeta for grande, ele tem uma interação maior. Em alguns casos ? poucos ? foi já possível verificar que existem dois ou três planetas que têm uma massa três ou quatro vezes superior à massa da Terra e esses são os designados super-terras, eminentemente rochosos, maiores que o nosso planeta, mas muito parecidos com ele. Os demais planetas que se conhece são os gigantes, que nem Júpiter – explica Sylvio de Mello.

Um Universo que se expande, que cria vazios de enormes proporções, sistemas planetários muito maiores que o nosso, super-terras e gigantes. Com esta imensidão universal, será a espécie humana a única forma de inteligência existente? Será ela única? Esta é uma questão que, certamente, milhões de pessoas já fizeram. Para o Prof. Sylvio de Mello, a resposta é: Seguramente, não! Para o nosso convidado, com certeza que devem haver outras formas de vida inteligente no Universo, só que nós ainda não as encontramos:

Eu acho que na escala de tempo em que as coisas acontecem ? que é de bilhões de anos ? a vida é um processo natural. Qualquer planeta parecido com a Terra, que tenha alguns bilhões de anos de idade, que tenha condições climáticas parecidas com o nosso planeta, tem todas as chances de aí aparecer vida: é uma conseqüência natural da química ? as moléculas vão se combinando, vão formando aminoácidos e naturalmente surge a vida. Nada acontece graças ao sobrenatural, tudo acontece por mero acaso, de forma natural. O leão na caça gazelas e outros animais? Porque é que ele faz isso? Instinto de sobrevivência… Isso é algo natural, relacionado com a própria vida. Não há nenhum ser sobrenatural que obrigue esse leão a matar, a não ser a sua sobrevivência, que é uma das consequências naturais da vida – afirma o docente.

Apaixonante, mas complexa, delicada e algo misteriosa, a Astronomia ainda é, de alguma forma, uma área pouco procurada pelos jovens estudantes e, a partir daí, torna-se complicado descobrir de que forma é que se podem atrair jovens para essa área do conhecimento. Para o palestrante deste edição do Ciência às 19 Horas, o problema coloca-se mais num vetor um pouco diferente.

Nós temos é que trabalhar para não espantar aqueles que se aproximam desta área do conhecimento e isso não é tarefa fácil. Numa certa proporção da juventude, a curiosidade existe ? ou seja, existe a chamada vocação ? e temos que preservar isso nos jovens através de novas e melhores técnicas de ensino; temos que, acima de tudo, ensinar os jovens a gostar de matemática, já que ela faz parte da vida de todos nós. E quem não gosta de matemática é porque foi vítima de um mau professor. O problema de preservar o interesse pela ciência é mais sério e mais importante do que criar o interesse pela ciência e isso tem que ser uma missão do ensino básico ? conclui o Prof. Sylvio de Mello.

Quando exerceu as funções de diretor do IAG-USP, o Prof. Sylvio de Mello foi o responsável pela oferta do telescópio que ainda hoje se encontra em pleno funcionamento no Observatório Dietrich Schiel, do Setor de Astronomia do CDCC ? Centro de Difusão Científica e Cultural, localizado no Campus I da USP, em São Carlos.

(Rui Sintra – jornalista)

Planetas extra-solares gigantes e super-terras
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Planetas extra-solares gigantes e super-terras

26 de fevereiro de 2018

Partículas Elementares: belas, estranhas e charmosas

Do que a matéria é feita? Como se organizam as estruturas que compõem o Universo: nós mesmos, os planetas, estrelas, galáxias, aglomerados de galáxias?
Perguntas como estas têm acompanhado a humanidade desde os primórdios da evolução. Temos hoje algumas respostas a elas, e muitas, muitas outras perguntas decorrentes que ainda são objeto de muito estudo e discussão. Nesta palestra apresentaremos alguns aspectos da visão contemporânea da Física sobre o que são os constituintes básicos da matéria e da energia. Procuraremos entender como idéias de “beleza”, “estranheza” e “charme” entram na nossa concepção do Universo.

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