Palestra

16 de março de 2018

Doença Arterial Coronária: Treinamento Físico e Reabilitação Cardíaca

Doença Arterial Coronária: Treinamento Físico e Reabilitação Cardíaca, foi o título da palestra apresentada, no último dia 19 de maio, inserida em mais uma edição do programa Ciência às 19 Horas, evento promovido mensalmente pelo IFSC/USP, tendo- se contado, desta vez, com a participação do conhecido e respeitado médico cardiologista da cidade de São Carlos e professor do Departamento de Ciências Fisiológicas, Laboratório de Fisiologia do Exercício, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Dr. Roberto M. M. Verzola.

Verzola abordou o papel do exercício físico na prevenção de doenças cardiovasculares (prevenção primária) e na reabilitação dos pacientes que já apresentaram eventos coronarianos, bem como na prevenção de novos eventos (prevenção secundária), tendo mostrado que o treinamento físico adequado também é benéfico para pacientes com insuficiência cardíaca crônica.

Sabe-se que o exercício físico contribui para essa prevenção, mas, contudo, existe a necessidade de se transmitir ao público os seus reais benefícios. Neste aspecto, o Dr. Roberto Verzola é enfático ao afirmar que o exercício físico atua de diversas formas, como, por exemplo, na circulação coronária, já que quanto mais precocemente for iniciado, mais ele aumenta a circulação da lateral coronária e aumenta o índice de vasos que irrigam a mesma região, sendo, por isso, um benefício enorme. Quando algum desses vasos tem problema de esclerose ou obstrução e o paciente aumenta a capacidade física, esse exercício eleva a capacidade aeróbica máxima, ou seja, o consumo máximo de oxigênio. Então, o indivíduo desenvolve uma capacidade de captar e usar esse oxigênio com maior eficiência na produção do ATP, que é utilizado no exercício: são inúmeras as vantagens, elucida Verzola, acrescentando que, com isso, o aumento da capacidade de gasto de oxigênio no próprio músculo cardíaco contribui, igualmente, para o aumento da capacidade de bombeamento do músculo.

Com o avanço da idade, tudo isso beneficia o paciente, que fica com menos instabilidade no andar, sofre menos quedas e beneficia-se no sentido de que a solicitação muscular aumentada previne a osteoporose, sendo que é a melhor opção para a prevenir, tanto no idoso, quanto na mulher e no homem. O exercício físico é benéfico antes e após qualquer episódio coronário. Se for executado após o citado episódio, não existe qualquer dúvida que todos os benefícios colhidos anteriormente irão ter grande utilidade para a recuperação do paciente, que durante esse estágio deverá imediatamente ser sujeito a uma prevenção secundária, desta feita executada por fisioterapeutas especializados em reabilitação cardíaca, alerta Verzola, ressaltando que esse trabalho requer algumas preocupações com relação aos resultados que irão ser colhidos daí para a frente: o paciente tem uma cicatriz decorrente do infarto e ela diminui o desenvolvimento e a performance cardíaca, mas os benefícios continuam para a vida toda.

Muitas pessoas têm dúvidas em relação ao grau de reabilitação atingida por um paciente, após um acidente cardiovascular. Na verdade, a reabilitação começa na fase hospitalar, ainda dentro da UTI. Vinte e quatro horas após o incidente, o paciente deverá começar a fazer exercícios com os membros, orientado por um fisioterapeuta cardiovascular. Depois que ele sai da UTI, da terapia intensiva/unidade coronária, o paciente vai para o quarto e continua fazendo fisioterapia: a esses dois momentos, seguidos, dá-se o nome de Fase-1. A seguir a essa fase aparece a Fase-2, onde o paciente, já em processo ambulatório, é sujeito a exercícios físicos supervisionados, sendo que após três ou quatro meses ele entra nas designadas Fase-3 e Fase-4, em que está livre, mas com a obrigatoriedade de fazer atividade física para o resto da vida.

Outro aspecto que vale abordar, neste contexto, é o chamado paciente com insuficiência cardíaca crônica, que é uma insuficiência cardíaca estável, portanto tratada, e que já tem um tempo de evolução, como explica o nosso convidado. Por exemplo, depois do infarto, você pode ter uma insuficiência cardíaca aguda, porque o episódio foi agudo. Mas esse infarto pode decorrer de uma doença valvular, cardiopatia isquêmica, doença de Chagas ou febre reumática. Esse aspecto é importante. Até há cerca de quinze ou vinte anos, era um tabu pensar em fazer atividade física aeróbica e, pior ainda, assistida, porque se pensava que isso aumentava a mortalidade: nada mais falso. É óbvio que existe um risco transitório durante a execução de exercício físico, mas, em longo prazo, o benefício é muito maior, a qualidade de vida melhora muito. A insuficiência cardíaca crônica é uma insuficiência cardíaca instalada já há algum tempo, explica o médico.

Por outro lado, muitas pessoas têm receio de fazer exercício físico, principalmente quando vêem notícias relacionadas com indivíduos que morrem em academias, ou praticando algum esporte. Para Verzola, é necessário ver, em primeiro lugar, se essas pessoas estavam sendo bem orientadas, de que forma estavam fazendo determinadas cargas de exercícios, se fizeram atividades prévias monitorizadas para garantir que determinada carga não acarretasse nenhum risco. Essas mortes, em geral, não são devidas a doença coronária. Essas pessoas têm cardiomiopatia hipertrófica, que não foi diagnosticada, ou miocardite, ou seja, são doenças derivadas de causas cardíacas – não coronárias. Por vezes, eles têm alguma síndrome arritmogênica não diagnosticada… A maioria desses atletas, com vinte e poucos anos, tem morte súbita fazendo um desempenho ou jogando uma partida de futebol… não é doença coronária. As pessoas fazem confusão com muitas coisas. Por exemplo, qualquer demência senil, hoje, é sinônimo de Alzheimer. O Alzheimer virou um guarda-chuva: as pessoas acham que tudo é Alzheimer! Quando se trata do coração, as pessoas pensam que tudo é igual, conclui o palestrante.

(Rui Sintra – jornalista)

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