O câncer de mama é a 2ª neoplasia mais frequente que acomete mulheres em todo mundo (atrás apenas dos tumores de pele não-melanoma). Existem muitas dúvidas a respeito dos fatores de risco, diagnóstico, tratamento, efeitos colaterais e muitos outros temas relacionados.
Com o objetivo de esclarecer parte destas dúvidas, o GBECAM – Grupo Brasileiro de Estudos do Câncer de Mama decidiu realizar um livro de perguntas e respostas, cujo conteúdo é o tema central desta palestra.
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Resenha
Ela é a segunda neoplasia mais frequente em termos mundiais. Estamos falando do câncer de mama, um tema que foi destaque da edição do dia 18 de março de 2014 do programa Ciência às 19 Horas e que atraiu um público majoritariamente feminino. O evento, que decorreu no Auditório Prof. Sérgio Mascarenhas (IFSC-USP), teve como palestrante o Dr. Diocésio Alves Pinto de Andrade, oncologista clínico do InORP, Instituto Oncológico de Ribeirão Preto (SP), que aproveitou o momento para apresentar o livro recentemente publicado pela GBECAM – Grupo Brasileiro de Estudos do Câncer de Mama, intitulado, Tudo o que você sempre quis saber sobre o câncer de mama*.
De fato, aquele que é considerado o câncer mais prevalente e teoricamente tranquilo, é o câncer de pele não-melanoma, que apresenta lesões de pele comuns, ou seja, as tradicionais pintas na pele. Já o câncer de mama é a neoplasia mais frequente na mulher, enquanto o câncer de próstata é mais frequente no homem.
Para o Dr. Diocésio de Andrade, a explicação para o principal fator de risco no desenvolvimento do câncer de mama, vada mais é do fato de ser mulher: Convém recordar que o homem também pode ter câncer de mama, embora numa porcentagem muito baixa, mas pode acontecer, principalmente quando existe uma história familiar positiva. O câncer de mama é um câncer que geralmente tem um pico de incidência um pouco alto, que surge entre a quinta e sexta década de vida e, associado a isso, aparece com algumas alterações hormonais – uma alta exposição a estrógeno. Mulheres que têm a primeira menstruação muito cedo, ou têm a última menstruação muito tarde, que nunca engravidaram ou que não amamentaram, são mais propensas a desenvolver o câncer de mama: esse é o grupo de maior risco, sublinha o clínico.
Existe um grupo pequeno de tumores de câncer de mama que tem uma síndrome familiar positiva, que é uma mutação em alguns genes. O câncer de mama tem dois genes principais e isso foi muito discutido no ano passado, quando a Angelina Jolie fez a mastectomia: nesse caso, foi a mutação dos genes BRCA1 e do BRCA2, que quando estão mutados, aumentam muito o risco do câncer de mama. Para Diocésio de Andrade, o aparecimento de um câncer de mama tem diversos motivos, não se podendo apontar uma única ou principal causa: Hábitos de vida também favorecem o desenvolvimento do câncer de mama, tais como a obesidade e o sedentarismo, embora o etilismo e o tabagismo sejam ainda temas controversos nesta área, pois não existe, por enquanto, uma relação causal entre esses dois vícios, mas os estudos demonstram uma certa probabilidade de eles eventualmente aumentarem o risco de câncer de mama, enfatiza Diocésio.
Quando falamos de câncer, em termos gerais, a forma mais eficaz para combater o mal é através da prevenção e, no câncer de mama, especificamente, existem formas de fazer uma prevenção secundária. E referimos a prevenção secundária, já que a prevenção primária consiste em um tratamento específico para que uma pessoa não desenvolva a doença: O câncer de mama não tem nenhum remédio, nenhuma mágica para o evitar. Prevenção secundária é diagnosticar cedo para você poder tratar bem e aumentar a chance de cura do paciente. Então, qual é a prevenção secundária no câncer de mama? Fazer mamografia, elucida o clínico.
Contudo, segundo o especialista, existem duas correntes: a do Instituto Nacional do Câncer, que fala que a mamografia deve ser feita anualmente, entre os 50 e 69 anos de idade. Trata-se de uma política de saúde pública, então tem custo-benefício de gasto do governo. A outra corrente é a da Sociedade Brasileira de Mastologia e da Sociedade Americana de Cancerologia, que sugere que a mulher deverá fazer uma mamografia anual a partir dos 40 anos de idade. Diocésio de Andrade é a favor desta última corrente, alegando que quanto mais precoce for o exame, melhor, embora não discorde em absoluto da primeira corrente de opinião: Estudos mostram que a partir dos quarenta ou cinquenta anos, a incidência não é tão grande. Então, de forma alguma podemos considerar errado esse estudo do Governo, mas ainda assim prefiro indicar a realização desse exame a partir dos 40 anos de idade. Contudo, fazer uma mamografia antes dessa idade não adianta nada, a não ser que seja uma mulher que tenha um histórico de família com câncer de mama, ou seja, duas gerações consecutivas em que duas pessoas tiveram câncer de mama. Nesses casos, está indicado começar o rastreamento da doença de forma mais precoce, mas o exame não é mais a mamografia, mas o ultrassom de mama. Por quê? Porque a mama da pessoa mais jovem é muito densa e o raio emitido por uma mamografia não consegue diferenciar entre a densidade da mama e de um nódulo e, aí poderá haver um diagnóstico errado, aquilo que chamamos falso negativo. Assim, nesses casos, quem vai dar o resultado correto será o ultrassom da mama, explica o médico.
Vamos supor que uma paciente desenvolve um câncer de mama e acaba por falecer devido às consequências dessa doença, e que ela tem filhos homens. O risco desses homens terem um câncer em decorrência da doença da mãe é cerca de 1%, portanto, uma hipótese muito remota.
O câncer é uma realidade na vida de qualquer família, sendo difícil não haver alguém que não tenha tido um parente de primeiro grau que não teve algum tipo de câncer. É um problema que tem de se enfrentar, até porque a doença é, atualmente, um problema de saúde pública, sendo a segunda causa de óbito no mundo, só perdendo para as doenças cardiovasculares, infarto e AVC. O câncer é uma doença terrível, porque ela sempre acha um caminho para se multiplicar, ou seja, ela descobre atalhos. Segundo Diocésio de Andrade, nos últimos dez anos os estudos conseguiram diagnosticar várias dessas vias de acesso e, melhor do que isso, conseguiram-se desenvolver vários medicamentos contra essas vias. Só que as vias não são simples: cada mutação obriga a se descobrir um remédio: É uma batalha incessante: o tumor consegue entrar por um caminho, você vai, bloqueia essa via em uma determinada parte, e ele consegue fazer um desvio. Então, você sempre tem que correr atrás do câncer para fechar as portas e quando você fecha uma, ele dá a volta no corredor e abre outra porta. É mais ou menos esse comparativo, comenta nosso entrevistado.
Ao contrário do que se possa pensar, o câncer sempre existiu; a diferença é que não havia tecnologia para o diagnosticar. Não havia qualquer método de imagem para diagnosticar um câncer, só que o intenso combate à doença teve um avanço exponencial nos últimos cinco anos: Em vez de falar em cura, eu prefiro muito mais abordar o diagnóstico precoce para aí sim, você poder fazer a cura através da cirurgia, do que demorar a diagnosticar e o câncer já estar espalhado e ficar difícil de curar. A esperteza do câncer para burlar todos os bloqueios é muito maior ainda do que o nosso conhecimento, conclui o médico.
*O livro poderá ser adquirido ou pedido na Livraria Saraiva
(Rui Sintra – jornalista)