Palestra

16 de março de 2018

Termografia: importante aliada na medicina

O Programa Ciência às 19 horas despediu-se do ano 2014 com a realização da palestra intitulada Termografia: a detecção do infravermelho no corpo humano para auxílio na medicina, um tema que foi abordado no dia 18 de novembro pelo Dr. Antonio Carlos de Camargo Andrade Filho, Coordenador da Rede Lucy Montoro – Unidade de Jahú.

Nesta palestra, Andrade Filho salientou o fato dos corpos animados e inanimados poderem emitir, ou absorver radiação infravermelha, sendo esta oriunda de movimentos rotacionais moleculares. Como o corpo humano é composto por células vivas e dependendo do tecido, órgão, ou localização que ocupam, ele emite mais, ou menos radiação eletromagnética. Essa radiação pode, portanto, ser medida com muita precisão e daí poder-se aferir e conferir desvios da normalidade do corpo humano como um auxílio para a área médica. Essas mensurações das radiações infravermelhas servem para pesquisas médicas, testes de novas drogas, prevenção de doenças ou epidemias, além de poderem controlar a evolução de tratamentos com bastante frequência, uma vez que esse tipo de exame é destituído de qualquer risco para o paciente.

Contudo, é interessante conhecer a história – embora resumida – de como apareceu essa técnica, que remonta ao período do declínio da II Guerra Mundial, quando os aliados buscavam um método que pudesse detectar movimentos suspeitos das forças do Eixo – navios, aviões e comboios de veículos -, principalmente em locais com pouca visibilidade ou mesmo em períodos noturnos, o que de fato conseguiram fazer.

Contudo, segundo Andrade Filho, o domínio da tecnologia, naquela época, era bastante primitivo, o que postergou o desenvolvimento da técnica em cerca de vinte anos, com o advento da guerra fria e com o aparecimento dos mísseis intercontinentais. Rússia, EUA, Suécia, Japão, além de países mais próximos da então União Soviética, temiam o aparecimento súbito de mísseis que não pudessem ser abatidos, devido às suas velocidades, e foi a partir daí que a detecção precoce desses mísseis, no momento do seu lançamento, passou a ser possível com a tecnologia que se desenvolveu nessa época, que, entretanto, cresceu e evoluiu muito. Simultaneamente, a classe médica que trabalhava ao serviço das forças armadas na Europa ocidental e oriental, junto com seus colegas asiáticos e americanos, começou a pensar no uso civil e pacífico dessa técnica no campo da medicina, principalmente voltada para a detecção precoce de doenças, ou no auxílio de diagnósticos clínicos. Embora a intenção fosse altruísta e importante, o certo é que essa tecnologia, por ser extremamente sensível para fins militares, ficou vedada á classe médica, daí o fato dos clínicos terem avançado muito pouco na utilização da detecção do infravermelho do corpo humano para fins de diagnóstico. Só com a queda do Muro de Berlim e com a pulverização da ex-URSS, essa tecnologia passou a ser mais divulgada no meio civil, tendo começado, então, a existir um interesse crescente no uso da detecção das anomalias do infravermelho do corpo humano, uma tecnologia que é considerada muito sensível e que auxilia bastante o médico, só que de baixa especificidade.

O Dr. Andrade Filho explicou o significado do termo baixa sensibilidade: Por exemplo, uma ressonância magnética tem uma especificidade maior na área anatômica e morfológica, mas baixa especificidade na área metabólica: por outro lado, a termografia tem uma alta sensibilidade para detectar qualquer anomalia de emissão do infravermelho do corpo humano. Qualquer doença, por menor acometimento que possa causar, já acusa uma anomalia na emissão do infravermelho – para mais ou para menos – e isso a ressonância magnética, a tomografia, a cintilografia, bem como outros exames subsidiários médicos, não têm essa sensibilidade, mas têm especificidades maiores em cada área, de tal maneira que a termografia médica situa-se como um exame de triagem, mostrando se o paciente tem alguma anomalia, ou não.

Contudo, segundo nosso entrevistado, outra importância desse exame é na prevenção de epidemias. Por exemplo, ao nível de aeroportos, portos, estações ferroviárias e estações rodoviárias, uma câmera termográfica colocada nos locais de embarque e desembarque pode detectar, com muita sensibilidade e rapidez, alguém que esteja iniciando um quadro infeccioso – por exemplo, pelo vírus ebola, gripe aviária, gripe suína, etc. Ao nível de centro cirúrgico, a termografia também se mostra quase que imprescindível nos dias de hoje: Por exemplo, pode auxiliar um cirurgião cardíaco que esteja fechando uma artéria coronária de um paciente e queira saber se essa artéria vai funcionar – ou não – após a sua religação. Antigamente, só se sabia esse resultado depois que o cirurgião fechava o peito do paciente, sem se poder antever ou acompanhar em tempo real a eventual ocorrência de uma trombose. Se algo corresse mal, havia a necessidade de abrir o peito desse paciente novamente. Hoje não, explica Andrade Filho, que acrescenta: Hoje, um cirurgião, com uma câmera de termografia, conecta-se à artéria coronária, solta o fluxo sanguíneo e em tempo real vê se o músculo está recebendo toda a irrigação necessária ou se a artéria está profundindo normalmente, não tendo a necessidade de reabrir o paciente novamente. Na Europa, Estados Unidos, Canadá e Japão, essa técnica já se encontra bastante difundida, ao contrário do que acontece no Brasil, que só agora começa a ter uma expansão exponencial: Eu estudo isso há quase 29 anos e, no início, éramos apenas dois médicos que utilizavam essa tecnologia no Brasil. Atualmente, o nosso país já conta com uma sociedade médica com titulação para isso, além de cursos específicos de formação para essa área, comenta Andrade Filho.

Sendo uma aliada da medicina, a termografia já está num curso de desdobramento de suas capacidades e, neste momento, ela já participa nos chamados exames acoplados, como, por exemplo, a utilização do Raio-X acoplado à termografia, da ressonância magnética acoplada à termografia e, mais recentemente, o próprio software da ressonância magnética está conseguindo fazer, no mesmo momento, a termografia de todos os planos dos tecidos, de tal maneira que a Ressonância Magnética Termográfica torna-se um exame muito mais completo, mais específico e mais sensível: A termografia, desdobrando-se na sua utilização ao nível de pronto-socorro e de centro cirúrgico, pode salvar muitas vidas, principalmente pela sua facilidade de uso e de sua grande sensibilidade, conclui Andrade Filho.

(Rui Sintra – jornalista)

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Instituto de Física de São Carlos - IFSC Universidade de São Paulo - USP
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