O Caminho do DNA
O Prof. Oscar Piro integra o corpo docente do Departamento de Física, da Facultad de Ciências Exactas, da Universidad Nacional de La Plata (UNLP), Argentina. Possui licenciatura e doutorado em física por aquela universidade, onde atua nas áreas de Física do Estado Sólido; Cristalografia Estrutural por Difração de Raios-X; Estrutura Cristalina, Molecular e Supramolecular; Eletrônica; Vibracional e Comportamento Magnético; e Propriedades Ópticas de Sólidos. Este docente argentino foi o palestrante convidado em mais uma edição do programa Ciência às 19 Horas, que decorreu no final da tarde do dia 19 de agosto último, no Auditório Prof. Sérgio Mascarenhas (IFSC-USP), um evento integrado nas comemorações do 20º Aniversário do Instituto de Física de São Carlos e nas celebrações do Ano Internacional da Cristalografia, uma apresentação subordinada ao tema “Uma breve história do DNA, a molécula da vida”.
Cristalógrafo de pequenas moléculas, que incluem materiais orgânicos e supramoleculares, Oscar Piro manteve, nos últimos 30 anos, uma colaboração muito forte com o Grupo de Cristalografia do IFSC-USP, especialmente com o Prof. Eduardo Castellano, no que concerne a estudos para remoção da contaminação das águas, entre outros novos projetos mais impactantes, que envolvem a física de estado sólido e problemas de desenvolvimento de metodologias teóricas. Contudo, em sua palestra, o pesquisador argentino fez uma abordagem sobre o início da biologia molecular, especialmente a forma como foram desenvolvidas as ideias e como se determinou a estrutura de uma molécula tão importante – o DNA.
Para Piro, não é exagerado dizer que o DNA é a molécula biológica mais importante, porque a informação sobre um ente biológico completo, não só no contexto humano, como, também, em todos os seres vivos, como as bactérias e o mundo animal: a codificação, que é a informação de qual é o benefício que vai sair dali, está no DNA. Minha intenção é tentar mostrar como se chegou a essa conclusão, depois de dez mil anos de estudos e observações, e como isso impacta de forma decisiva na medicina. Você sabe que defeitos genéticos residem em falhas do DNA e devido à estrutura molecular, a medicina está colhendo ensinamentos para a cura de certas enfermidades, mas não todas, comenta o pesquisador.
Todavia, segundo Piro, os estudos sobre a biologia molecular vão demorar ainda muitos anos para utilizar o DNA na cura efetiva de enfermidades mais graves no ser humano, como o câncer, já que estamos muito longe de conseguir esse feito. O DNA é como uma impressão digital. Cada indivíduo tem um DNA que é diferente de qualquer outra pessoa ou de outro ser e o mais interessante do DNA é que, durante toda a história da evolução da vida, ele sempre tem armazenado as informações da mesma forma. Esse é um aspecto muito interessante, que contrasta, por exemplo, com os tipos de armazenamento de informações eletrônicas, que mudam a todo tempo: primeiro, você teve as fitas magnéticas, depois vieram os CD’s, DVD’s, Bluray’s, pen-drives, etc., o que significa que, com o passar do tempo, você fica impossibilitado de ler a informação gravada em tecnologias mais antigas. Isso já não acontece com o DNA, pois ele sempre guarda a informação e a lê da mesma maneira, o que torna mais fácil avançar no campo de pesquisa, porque se ele é unilateral, o avanço é mais exponencial, acrescenta Piro. Em sua palestra, comparou uma célula vegetal com outra, animal, mostrando certa origem comum. Basicamente, o DNA é exatamente a mesma molécula que codifica o mesmo tipo de informação e isso é muito importante porque se podem extrair conclusões sobre a saúde humana.
Mas, com o avanço no estudo do DNA, até onde é que a ciência pode, ou deve chegar? De fato, existem problemas éticos muito sérios envolvendo determinados estudos, bem como a utilização do DNA, especialmente no que concerne à criação de novas espécies, ou modificando as já existentes. Segundo o Prof. Oscar Piro, essa área de discussão é muito ampla e envolve um conjunto lato de pesquisadores, como, biólogos, químicos, físicos, juristas, e personalidades diversas ligadas às áreas da ética e da filosofia, já que é um problema muito sério, havendo a possibilidade de o homem poder modificar todo o contexto. Contudo, uma questão fica em aberto: poderá esse problema e essa discussão bloquear o desenvolvimento científico e o trabalho dos pesquisadores? Com um bisturi, você pode matar ou salvar a vida de uma pessoa. Por isso, a ética sobre esse assunto requer muita discussão e ponderação, conclui o pesquisador.
(Rui Sintra – jornalista)