A comunidade surda é linguística e socialmente marginalizada quanto à educação, principalmente na área científica. Isso decorre de várias barreiras.
A maioria dos surdos não é oralizada, isto é, não faz leitura labial nem fala, e apresenta grande dificuldade com relação à língua Portuguesa escrita.
Dessa forma, além de não escutarem e encontrarem dificuldade no aprendizado formal nas escolas, não absorvem conhecimento informal obtido através da mídia.
Apesar da língua natural de comunicação entre os surdos ser a língua brasileira de sinais (LIBRAS), cerca de 90% dos nossos surdos são filhos de pais ouvintes (que não conhecem LIBRAS) e muitas crianças surdas chegam aos 6, 7 anos sem nenhuma língua e sem organizar seu pensamento.
Com relação à área científica e tecnológica, a exclusão é ainda mais evidente, pois além de envolver muitos conceitos abstratos, a LIBRAS é muito pobre em sinais científicos.
O que iremos discutir é uma abordagem bem sucedida que visa circundar algumas dessas dificuldades.
O mundo do surdo passa a ser visto e não ouvido.
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Resenha
Tudo começou no início da década de setenta – comentou a Profa. Vivian Rumjanek, docente e pesquisadora do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro, um pouco antes de iniciar a sua palestra intitulada A Ciência VISTA pelo Surdo, inserida em mais uma edição do programa Ciência às 19 Horas, realizada no IFSC no dia 16 de agosto.
O que leva uma Bioquímica Médica a se interessar por surdos e suas problemáticas? Que correlação existe entre as duas áreas? Para Vivian, a correlação existe em termos médicos e em termos sociais, mas o que mais aflige é que o surdo é um deficiente, ou uma pessoa com necessidades especiais, que está invisível para todos. Você consegue identificar, de imediato, um cadeirante, um amputado, um portador de alguma outra deficiência física, um cego, mas um surdo você não identifica: a deficiência dele não é identificável em um primeiro momento e isso é aflitivo. Como a grande maioria dos surdos não fala, essa maioria vive num mundo completamente diferente das restantes pessoas. A única referência de comunicação que o surdo tem é a visão, nada mais.
Vivian Rumjanek contou que o seu interesse por este assunto começou no início da década de 1971, quando o então Presidente dos EUA, Richard Nixon e o Secretário de Estado, Henry Kissinger, preocupados em desatolar seu país dos pântanos vietnamitas, instituíram a denominada Diplomacia do Ping-Pong com a República Popular da China, de Mao Tse-Tung, tendo-se estabelecido, entre outras iniciativas, a estruturação do Eixo Washington – Beijing e o ingresso da China Popular na ONU:
Fui convidada, nesse período, para participar em um congresso em Beijing. Cheguei ao aeroporto chinês com quatro horas de antecedência do horário estipulado e, claro, o meu guia ainda não tinha chegado para me acolher. E ali fiquei eu durante quatro horas, única não asiática, sem qualquer referência, perdida numa multidão de chineses, sem qualquer hipótese de me comunicar, pois ninguém falava outro idioma que não fosse o chinês, sem saber sequer onde era o banheiro, já que tudo estava escrito em chinês. Mesmo ouvindo o ruído em meu redor eu me senti completamente perdida, em pânico. Foi aí que eu comecei a pensar na sensação que deveria ter o indivíduo surdo e como é importante, mesmo imprescindível, ele ter uma comunicação visual, já que dificilmente tem outra ao seu dispor.
Foi a partir desse momento que Vivian Rumjanek iniciou sua caminhada rumo a um entendimento mais profundo dessa temática, tendo-se envolvido não só no estudo da deficiência auditiva, como, também, em diversos projetos com a finalidade de minimizar os efeitos nefastos da solidão atroz vivida pelos surdos e pela dificuldade que eles têm em progredir, principalmente nas escolas, universidades e, principalmente, na ciência.
Vivian Rumjanek confidenciou-nos que na sua palestra iria levantar questões relativas com a falta de intérpretes em LIBRAS e a inexistência desses profissionais em diversos setores, como, por exemplo, hospitais, escolas, universidades e institutos, o que prejudica fortemente a comunicação, integração e desenvolvimento da pessoa surda no cotidiano.
Atualmente, a Profa. Vivian Rumjanek trabalha com cerca de duzentas crianças surdas, no Rio de Janeiro, desenvolvendo atividades que têm o intuito de abrir, para elas, as portas à ciência e tecnologia.
(Rui Sintra: Jornalista)