Palestra

Planetas extra-solares gigantes e super-terras

Data da Palestra: 14/08/2012
Palestrante: Prof. Sylvio Ferraz de Mello
Instituição: IAG - USP
Palestra nr: 73

Conhecemos hoje mais do que 700 planetas em órbita ao redor de estrelas próximas. A maioria desses planetas são gigantes, bem maiores do que Júpiter. Alguns deles, entretanto, são apenas pouco maiores do que a Terra.

A saga das descobertas de outros mundos teve início no século XX, com as primeiras buscas (infrutíferas) de pequenos movimentos das estrelas no céu, que pudessem revelar a presença de um planeta ao seu redor, e prosseguiu com enorme sucesso a partir da década de 1990 com medidas cada vez mais precisas das velocidades radiais das estrelas (efeito Doppler).

Hoje, podem-se medir variações na velocidade com que uma estrela se afasta ou se aproxima da Terra com uma precisão inferior a 1 m/s ( 3.6 km/h). A essas observações vieram se ajuntar observações de variação do brilho das estrelas capazes de revelar a passagem de um planeta pela sua frente. Foi desta forma que os telescópios espaciais CoRoT e Kepler descobriram as primeiras super-terras, planetas rochosos com grandes núcleos metálicos, maiores de que a Terra, mas bem menores que os gigantes análogos a Jupiter que predominam entre os planetas até agora descobertos.

Mais recentemente, os maiores telescópios instalados em vários pontos da Terra tem permitido obter imagens diretas de alguns grandes planetas perto de estrelas próximas, em geral muito jovens, mostrando os confins de sistemas planetários maiores do que o Sistema Solar, alguns dos quais ainda envoltos no disco de poeira que lhes deu origem.

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Resenha

Prof. Sylvio Ferraz de Mello

Subordinada ao tema Planetas extra-solares gigantes e super-terras, decorreu no dia 14 de agosto, pelas 19 horas, no Auditório Prof. Sergio Mascarenhas, no IFSC, mais uma palestra integrada no programa Ciência às 19 Horas, tendo como convidado o Prof. Dr. Sylvio Ferraz de Mello, pesquisador e docente do IAG-USP.

Nos momentos que antecederam sua palestra, o Prof. Sylvio trocou algumas idéias com a Assessoria de Comunicação do IFSC sobre a temática que iria ser apresentada e debatida: a paixão demonstrada pelo pesquisador sobre sua especialidade impeliu-nos a colocar uma primeira questão que, à primeira vista, parecia ter uma resposta relativamente fácil, mas que obrigou nosso convidado a fazer um compasso de espera para responder a ela: como é que está o nosso Universo? Ele está estável, equilibrado? A primeira reação do pesquisador foi: (…) essa é a questão mais fácil ou a mais difícil que vão colocar? (…) De fato, para o Prof. Sylvio de Mello, o que se sabe é que o nosso Universo está se expandindo cada vez com maior rapidez, o que traz algumas conseqüências, que não podem ser interpretadas como ?perigos?:

Tudo no Universo está-se afastando, graças a essa expansão, mas repare, eu estou falando num período de tempo muito grande. Daqui a bilhões de anos, se ainda houver vida na terra, não se enxergará as estrelas como hoje acontece, ver o céu estrelado, etc. Mas isso é uma conseqüência dessa expansão que falei, o que necessariamente não quer dizer perigo. E algo que se expande, necessariamente cria vazios: e é isso que está acontecendo, ou seja, a criação de enormes vazios ? pontua nosso convidado.

Entrando diretamente no tema que nosso convidado iria apresentar, um dos aspectos que nos intrigou desde que lemos o resumo de sua palestra, foi a forma como se mede a velocidade com que uma estrela se afasta ou aproxima de nosso planeta, e o exemplo dado por Sylvio de Mello ajudou na compreensão.

Da mesma forma que se nota a diferença do som de um trem que se aproxima ou se afasta de você ? primeiro um som agudo e logo, na sequência, um som grave, assim acontece com a velocidade das estrelas, só que através de sua coloração. As estrelas ficam mais vermelhas quando se afastam da Terra e ficam mais azuis quando se aproximam de nosso planeta; e é através dessa mudança de cor que é possível determinar suas velocidades. E é assim que também medimos, ou calculamos a expansão do Universo ? explica o pesquisador.

Outro assunto que o Prof. Sylvio Mello abordaria em sua palestra foi a existência das designadas super-terras e como se distinguem no Universo. De fato, segundo o docente, temos elementos que permitem saber qual é a massa de cada planeta, sendo que essa mesma massa está diretamente relacionada à forma como o planeta interage com as estrelas mais próximas, até na sua própria rotação:

Se a massa de um planeta for grande, ele tem uma interação maior. Em alguns casos ? poucos ? foi já possível verificar que existem dois ou três planetas que têm uma massa três ou quatro vezes superior à massa da Terra e esses são os designados super-terras, eminentemente rochosos, maiores que o nosso planeta, mas muito parecidos com ele. Os demais planetas que se conhece são os gigantes, que nem Júpiter – explica Sylvio de Mello.

Um Universo que se expande, que cria vazios de enormes proporções, sistemas planetários muito maiores que o nosso, super-terras e gigantes. Com esta imensidão universal, será a espécie humana a única forma de inteligência existente? Será ela única? Esta é uma questão que, certamente, milhões de pessoas já fizeram. Para o Prof. Sylvio de Mello, a resposta é: Seguramente, não! Para o nosso convidado, com certeza que devem haver outras formas de vida inteligente no Universo, só que nós ainda não as encontramos:

Eu acho que na escala de tempo em que as coisas acontecem ? que é de bilhões de anos ? a vida é um processo natural. Qualquer planeta parecido com a Terra, que tenha alguns bilhões de anos de idade, que tenha condições climáticas parecidas com o nosso planeta, tem todas as chances de aí aparecer vida: é uma conseqüência natural da química ? as moléculas vão se combinando, vão formando aminoácidos e naturalmente surge a vida. Nada acontece graças ao sobrenatural, tudo acontece por mero acaso, de forma natural. O leão na caça gazelas e outros animais? Porque é que ele faz isso? Instinto de sobrevivência… Isso é algo natural, relacionado com a própria vida. Não há nenhum ser sobrenatural que obrigue esse leão a matar, a não ser a sua sobrevivência, que é uma das consequências naturais da vida – afirma o docente.

Apaixonante, mas complexa, delicada e algo misteriosa, a Astronomia ainda é, de alguma forma, uma área pouco procurada pelos jovens estudantes e, a partir daí, torna-se complicado descobrir de que forma é que se podem atrair jovens para essa área do conhecimento. Para o palestrante deste edição do Ciência às 19 Horas, o problema coloca-se mais num vetor um pouco diferente.

Nós temos é que trabalhar para não espantar aqueles que se aproximam desta área do conhecimento e isso não é tarefa fácil. Numa certa proporção da juventude, a curiosidade existe ? ou seja, existe a chamada vocação ? e temos que preservar isso nos jovens através de novas e melhores técnicas de ensino; temos que, acima de tudo, ensinar os jovens a gostar de matemática, já que ela faz parte da vida de todos nós. E quem não gosta de matemática é porque foi vítima de um mau professor. O problema de preservar o interesse pela ciência é mais sério e mais importante do que criar o interesse pela ciência e isso tem que ser uma missão do ensino básico ? conclui o Prof. Sylvio de Mello.

Quando exerceu as funções de diretor do IAG-USP, o Prof. Sylvio de Mello foi o responsável pela oferta do telescópio que ainda hoje se encontra em pleno funcionamento no Observatório Dietrich Schiel, do Setor de Astronomia do CDCC ? Centro de Difusão Científica e Cultural, localizado no Campus I da USP, em São Carlos.

(Rui Sintra – jornalista)

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