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16 de março de 2018

A ciência como agente de transformação social

O médico Miguel Nicolelis foi o palestrante convidado na última edição de 2011 do programa CIÊNCIA ÀS 19 HORAS, que decorreu no dia 22 de novembro, pelas 19 horas, no Auditório Prof. Sérgio Mascarenhas, IFSC-USP. Subordinada ao tema A CIÊNCIA COMO AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL, a palestra de Nicolelis excedeu todas as expectativas, perante um numeroso público que lotou o auditório.

O mote foi dado através da ideia da criação de um projeto privado, com o objetivo de se construírem institutos de pesquisa independentes que possam promover a pesquisa científica básica e aplicada, de nível mundial, em áreas estratégicas consideradas essenciais para o desenvolvimento do Brasil. Mais do que a produção de pesquisa acadêmica, a missão é estabelecer iniciativas educacionais e sociais com o intuito de fortalecer as comunidades mais excluídas.

Foi com base nessa filosofia que Nicolelis avançou na criação do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (INN-ELS), gerido pela AASDAP – Associação Alberto Santos Dumont para Apoio à Pesquisa, no Estado do Rio Grande do Norte, onde já foram dados importantes passos para um processo local de minimização das desigualdades sociais e econômicas entre diferentes regiões do país, descentralizando a produção e a disseminação do conhecimento e tornando a educação científica qualificada acessível a crianças e jovens do ensino público.

Em atividade desde 2003, a AASDAP integra, atualmente, dois centros de pesquisa em neurociências (Natal e Macaíba – RN), um centro de educação científica, com três unidades (Natal e macaíba – RN e Serrinha – BA), para 1400 crianças e jovens com idades entre os 11 e os 17 anos, oriundos de escolas públicas da região, bem como um centro de saúde inteiramente voltado para os cuidados materno-infantis em Macaíba.

Segundo Nicolelis, o objetivo deste projeto, desde seu início, tem sido levar a ciência para as comunidades instaladas no entorno do Instituto:

Ele foi concebido como uma estrutura que teria uma ação dedicada à transformação social nas comunidades da periferia de Natal e na cidade de Macaíba. Assim, o projeto já nasceu com a ideia de ser criado um programa denominado “Escola para toda a vida”, que começa no atendimento das mães, no decurso do pré-natal, e que foi desenvolvido no nosso centro de saúde, onde hoje se faz cerca de 12 mil atendimentos por ano em mulheres residentes na periferia; até há bem pouco tempo essas mulheres não tinham qualquer atendimento pré-natal, principalmente o relacionado com alto risco. Foi o início de tudo. Em quatro anos que dura este nosso projeto, conseguimos reduzir a zero a mortalidade materna no pré-natal – que era uma das mais altas da região = 85 mortes por cada 100 mil mulheres – refere Nicolelis.

O resultado foi que, a partir desse processo, as crianças já têm a chance de nascer com um potencial neurobiológico perfeitamente normal, ou seja, elas não perdem a oportunidade de desenvolver o seu sistema nervoso em todas as suas potencialidades. Foi a partir desse momento que o Instituto decidiu construir uma escola, que ficará pronta em meados do ano que vem, com capacidade para cinco mil crianças, e que funcionará em tempo integral, envolvendo desde crianças do berçário até ao final do ensino médio, conforme explicou o palestrante:

Nosso trabalho começou nas escolas públicas da região, onde criamos um programa dedicado a mil crianças e que funcionou no turno oposto ao praticado nas escolas. Ou seja, foi uma aposta na educação científica desenvolvida de forma totalmente prática, onde as crianças aprendem todos os conceitos fundamentais da ciência moderna, fazendo experimentos da mesma forma que nós, pesquisadores, fazemos nos nossos laboratórios de pesquisa. Este projeto começou em 2005 e, atualmente, temos cinco unidades funcionando no Estado do Rio Grande do Norte e uma escola em Serrinha, na Baía. No próximo ano iremos inaugurar o denominado CAMPUS DO CÉREBRO, que constitui a maior ação da AASDAP, numa parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Esse CAMPUS receberá o nosso Instituto, que terá uma área de 13 mil metros quadrados, e uma escola com uma área de quinze mil metros quadrados, e cujo nome será ESCOLA PARA TODA A VIDA. O nosso trabalho inicia-se com o nascimento da criança e todo o seu acompanhamento, em tempo integral, até ao final do ensino médio. É o primeiro projeto nacional de escola em tempo integral – pontua Miguel Nicolelis.

Através da primeira turma formada pelo Instituto, que começou em 2007, Nicolelis afirma que o nível de evasão escolar se fixou em 3% (atualmente, no Brasil, a evasão escolar situa-se em 50% no ensino fundamente). Ou seja, todos os alunos abrangidos por esse curso de educação continuam no ensino médio e, pela primeira vez na história local, crianças dessas comunidades começaram a entrar na Universidade Federal do Rio Grande do Norte:

O desempenho acadêmico dessas crianças mudou completamente, sinal que elas começaram a acreditar e a desenvolver seu potencial intelectual, a ponto de se transformarem, neste momento, na elite educacional local. Demonstramos, assim, que o casamento entre neurociência e pedagogia tem um futuro muito promissor – refere o palestrante.

O governo tem estado muito atento a este projeto, dando, paulatinamente, apoio ao desenvolvimento do mesmo, segundo afirma Nicolelis. O Instituto já está mantendo diálogos aprofundados com o MEC sobre a possibilidade de expandir esse projeto por todo o Brasil:

Já apresentei o programa aos Presidentes Lula e Dilma, bem como a Ministro da Educação, Fernando Haddad – cujo seu ministério é nosso parceiro desde há quatro anos. A ideia é criar um programa chamado ALBERTO SANTOS DUMONT: EDUCAÇÃO CIENTÍFICA, que seja disseminado por todos os institutos federais e de tecnologia do país, com o objetivo final de atingir um milhão de crianças – acrescenta Nicolelis.

Segundo o palestrante, todo esse projeto não é mais do que uma forma de se tentar formar novos cidadãos:

Queremos que essas crianças aprendam a pensar, a valorizar a própria cultura e as suas raízes, mas principalmente para que eles aprendam que é possível agir na sociedade, uma vez que eles irão usar o método científico aplicado ao seu cotidiano – conclui Miguel Nicolelis.

Rui Sintra – jornalista

12 de março de 2018

A ciência como agente de transformação social

Como cientistas brasileiros, radicados no exterior, poderiam contribuir para o desenvolvimento econômico e sociocultural de seu país natal?
Como resposta a essa indagação, surgiu a idéia de criar um projeto privado, cuja principal meta seria construir institutos de pesquisa independentes que promoveriam pesquisa científica básica e aplicada, de nível mundial, em áreas estratégicas consideradas vitais para o desenvolvimento do Brasil.
A principal missão desses institutos não estaria limitada à produção de pesquisa acadêmica, mas também incluiria o estabelecimento de iniciativas educacionais e sociais, com o intuito de fortalecer as comunidades excluídas da região.
Desse anseio e filosofia surgiu o projeto do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS), gerido pela Associação Alberto Santos Dumont para Apoio à Pesquisa (AASDAP). Localizado no estado do Rio Grande do Norte, o IINN-ELS pretende contribuir para o processo de minimização das desigualdades sociais e econômicas entre as diferentes regiões do país, descentralizando a produção e a disseminação do conhecimento, e tornando a educação científica qualificada acessível a crianças e jovens do ensino público.
Em atividade desde 2003, a AASDAP integra atualmente dois centros de pesquisas em neurociências (Natal e Macaíba ? RN); um centro de educação científica, com três unidades (Natal e Macaíba, no RN e Serrinha, na Bahia), para 1400 crianças e jovens de 11 a 17 anos de escolas públicas da região; e, um centro de saúde voltado aos cuidados materno-infantis em Macaíba. Começando a dar frutos, essa experiência tem demonstrado o grande potencial transformador de iniciativas que agregam pesquisa científica a uma missão social.


Resenha

Miguel Nicolelis

O médico Miguel Nicolelis foi o palestrante convidado na última edição de 2011 do programa CIÊNCIA ÀS 19 HORAS, que decorreu no dia 22 de novembro, pelas 19 horas, no Auditório Prof. Sérgio Mascarenhas, IFSC-USP. Subordinada ao tema A CIÊNCIA COMO AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL, a palestra de Nicolelis excedeu todas as expectativas, perante um numeroso público que lotou o auditório.

O mote foi dado através da ideia da criação de um projeto privado com o objetivo de se construírem institutos de pesquisa independentes que possam promover a pesquisa científica básica e aplicada, de nível mundial, em áreas estratégicas consideradas essenciais para o desenvolvimento do Brasil. Mais do que a produção de pesquisa acadêmica, a missão é estabelecer iniciativas educacionais e sociais com o intuito de fortalecer as comunidades mais excluídas.

Foi com base nessa filosofia que Nicolelis avançou na criação do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (INN-ELS), gerido pela AASDAP: Associação Alberto Santos Dumont para Apoio à Pesquisa, no Estado do Rio Grande do Norte, onde já foram dados importantes passos para um processo local de minimização das desigualdades sociais e econômicas entre diferentes regiões do país, descentralizando a produção e a disseminação do conhecimento e tornando a educação científica qualificada acessível a crianças e jovens do ensino público.

Em atividade desde 2003, a AASDAP integra, atualmente, dois centros de pesquisa em neurociências (Natal e Macaíba, RN), um centro de educação científica, com três unidades (Natal e Macaíba, RN e Serrinha, BA), para 1400 crianças e jovens com idades entre os 11 e os 17 anos, oriundos de escolas públicas da região, bem como um centro de saúde inteiramente voltado para os cuidados materno-infantis em Macaíba.

Segundo Nicolelis, o objetivo deste projeto, desde seu início, tem sido levar a ciência para as comunidades instaladas no entorno do Instituto:

Ele foi concebido como uma estrutura que teria uma ação dedicada à transformação social nas comunidades da periferia de Natal e na cidade de Macaíba. Assim, o projeto já nasceu com a ideia de ser criado um programa denominado ?Escola para toda a vida?, que começa no atendimento das mães, no decurso do pré-natal, e que foi desenvolvido no nosso centro de saúde, onde hoje se faz cerca de 12 mil atendimentos por ano em mulheres residentes na periferia; até há bem pouco tempo essas mulheres não tinham qualquer atendimento pré-natal, principalmente o relacionado com alto risco. Foi o início de tudo. Em quatro anos que dura este nosso projeto, conseguimos reduzir a zero a mortalidade materna no pré-natal ? que era uma das mais altas da região = 85 mortes por cada 100 mil mulheres, refere Nicolelis.

O resultado foi que, a partir desse processo, as crianças já têm a chance de nascer com um potencial neurobiológico perfeitamente normal, ou seja, elas não perdem a oportunidade de desenvolver o seu sistema nervoso em todas as suas potencialidades. Foi a partir desse momento que o Instituto decidiu construir uma escola, que ficará pronta em meados do ano que vem, com capacidade para cinco mil crianças, e que funcionará em tempo integral, envolvendo desde crianças do berçário até ao final do ensino médio, conforme explicou o palestrante:

Nosso trabalho começou nas escolas públicas da região, onde criamos um programa dedicado a mil crianças e que funcionou no turno oposto ao praticado nas escolas. Ou seja, foi uma aposta na educação científica desenvolvida de forma totalmente prática, onde as crianças aprendem todos os conceitos fundamentais da ciência moderna, fazendo experimentos da mesma forma que nós, pesquisadores, fazemos nos nossos laboratórios de pesquisa. Este projeto começou em 2005 e, atualmente, temos cinco unidades funcionando no Estado do Rio Grande do Norte e uma escola em Serrinha, na Baía. No próximo ano iremos inaugurar o denominado CAMPUS DO CÉREBRO, que constitui a maior ação da AASDAP, numa parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Esse CAMPUS receberá o nosso Instituto, que terá uma área de 13 mil metros quadrados, e uma escola com uma área de quinze mil metros quadrados, e cujo nome será ESCOLA PARA TODA A VIDA. O nosso trabalho inicia-se com o nascimento da criança e todo o seu acompanhamento, em tempo integral, até ao final do ensino médio. É o primeiro projeto nacional de escola em tempo integral, pontua Miguel Nicolelis.

Através da primeira turma formada pelo Instituto, que começou em 2007, Nicolelis afirma que o nível de evasão escolar se fixou em 3% (atualmente, no Brasil, a evasão escolar situa-se em 50% no ensino fundamente). Ou seja, todos os alunos abrangidos por esse curso de educação continuam no ensino médio e, pela primeira vez na história local, crianças dessas comunidades começaram a entrar na Universidade Federal do Rio Grande do Norte:

O desempenho acadêmico dessas crianças mudou completamente, sinal que elas começaram a acreditar e a desenvolver seu potencial intelectual, a ponto de se transformarem, neste momento, na elite educacional local. Demonstramos, assim, que o casamento entre neurociência e pedagogia tem um futuro muito promissor,  refere o palestrante.

O governo tem estado muito atento a este projeto, dando, paulatinamente, apoio ao desenvolvimento do mesmo, segundo afirma Nicolelis. O Instituto já está mantendo diálogos aprofundados com o MEC sobre a possibilidade de expandir esse projeto por todo o Brasil:

Já apresentei o programa aos Presidentes Lula e Dilma, bem como a Ministro da Educação, Fernando Haddad ? cujo seu ministério é nosso parceiro desde há quatro anos. A ideia é criar um programa chamado ALBERTO SANTOS DUMONT: EDUCAÇÃO CIENTÍFICA, que seja disseminado por todos os institutos federais e de tecnologia do país, com o objetivo final de atingir um milhão de crianças, acrescenta Nicolelis.

Segundo o palestrante, todo esse projeto não é mais do que uma forma de se tentar formar novos cidadãos:

Queremos que essas crianças aprendam a pensar, a valorizar a própria cultura e as suas raízes, mas principalmente para que eles aprendam que é possível agir na sociedade, uma vez que eles irão usar o método científico aplicado ao seu cotidiano, conclui Miguel Nicolelis.

O programa CIÊNCIA ÀS 19 HORAS voltará a partir do mês de março de 2012.

Aguardamos sua visita na série de palestras que decorrerão todos os meses no IFSC-USP.

Até lá!

Rui Sintra – jornalista

A ciência como agente de transformação social
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A ciência como agente de transformação social