Palestra

16 de março de 2018

O Físico Médico: uma atividade profissional onde a Física e Medicina andam juntas

Chegou ao fim a programação estipulada para o ano de 2012 do programa Ciência às 19 Horas. Na última edição, realizada no dia 13 de novembro, que decorreu no Auditório Prof. Sérgio Mascarenhas (IFSC), foi dado destaque ao tema Onde a Física e a Medicina se encontram: Física Médica e Neurofísica, uma palestra apresentada pela Profa. Dra. Gabriella Castellano, docente Grupo de Neurofísica do Instituto de Física Gleb Wataghin (UNICAMP).

Nesta interessante palestra, a convidada incidiu seu olhar sobre a atividade de um físico médico – ainda pouco conhecida entre nós -, bem como o entrelaçamento que existe entre as áreas da Física e da Medicina nesse seu trabalho.

As áreas mais importantes da designada física médica são a radioterapia, medicina nuclear e a radiologia ou radiodiagnóstico, sendo que todas elas envolvem o manuseamento de equipamentos complexos, lidando com radiação ionizante. Daí a necessidade, segundo a palestrante, de se ter um profissional que tenha conhecimento, aptidão e especialização neste tipo de radiação, sabendo como ela interage com os tecidos do corpo humano e que danos e benefícios ela pode causar nas pessoas: esse profissional é o físico médico.

Sempre que uma estrutura hospitalar possua equipamentos desse tipo, torna-se necessária a presença de um físico médico. Atualmente, os hospitais têm investido na compra de equipamentos de radioterapia, que servem, principalmente, para o tratamento de câncer: daí que os físicos médicos sejam considerados uma peça fundamental nesses procedimentos, porque uma vez que o médico diagnostica qual é o tipo de câncer que um paciente tem, prescrevendo um tratamento, quem irá fazer o planejamento desse mesmo tratamento, juntamente com o médico, será o físico médico, cabendo a este sugerir qual será o melhor tipo de terapia que irá ser utilizado para tratar esse tumor, de que forma é que a radiação irá ser canalizada, se haverá riscos de reações adversas, quais os ângulos que deverão ser aplicados na radiação, qual a intensidade dela, etc. E o objetivo é sempre tentar destruir o tumor sem danificar ou comprometer todo o tecido que se encontra em redor dele e que está são. Sobre o enquadramento legal desta atividade profissional, Gabriela Castellano explica que, atualmente, existe uma legislação que obriga os centros de radioterapia a terem, no seu quadro de recursos humanos, a figura do físico médico. Contudo, para outras áreas, como a medicina nuclear e o radiodiagnóstico, ainda não existe legislação, mas está-se caminhando nesse sentido. Na medicina nuclear, o usual é utilizarem-se radiofármacos, que são moléculas que possuem elementos radioativos, e que ao serem ingeridas ou injetadas nos pacientes, essas moléculas emitem radiações internas que podem ser utilizadas para se fazerem imagens de determinadas partes do corpo humano. É óbvio que toda a manipulação desses radiofármacos precisa ser feita por profissionais altamente qualificados e especializados, que possam calcular a dose certa que pode ser administrada em determinado paciente, exatamente para que se possa fazer determinada imagem e não outra coisa qualquer que possa prejudicar esse paciente. Por outro lado, como os radiofármacos geralmente são feitos nos próprios centros de medicina nuclear, existe a necessidade de existirem físicos médicos nesses locais, por forma a que o trabalho deles tenha uma sequência lógica, principalmente na interligação com o pessoal de radiofarmácia.

A formação de um físico médico e sua saída para o mercado de trabalho

A física médica é uma disciplina multidisciplinar, onde o físico tem que ter conhecimentos vários, não só no aspecto da física comum, como também nas áreas de medicina, biologia, química e, inclusive, conhecimentos profundos de matemática e computação, porque esse profissional irá lidar  com softwares extremamente complexos e com algoritmos complicados, principalmente para captura e tratamento de imagens com definições de alto padrão, que nada têm a ver com as usuais imagens da radiologia convencional – os tão conhecidos Raios-X. Há quem questione se este profissional é um físico, ou se é um médico: na verdade, ele é um físico e não um médico, mas trabalha lado-a-lado com os médicos, em parceria estreita com eles. Quanto à formação destes profissionais, a Profa. Gabriela Castellano informa:

Vou dar o exemplo da UNICAMP, onde existe um curso de graduação em física médica, em que o aluno faz a maioria de suas disciplinas dentro da área da física básica, passando depois para disciplinas específicas: biologia, medicina, física aplicada à medicina, física de radioterapia, física de me3dicina nuclear, física de radiologia, etc., tudo isso já canalizado, como se vê, para a área médica. São quatro anos de curso, acrescido de um ano de estágio em um hospital ou clínica, e mais um período de residência em física médica num centro de radioterapia, para depois ingressar definitivamente em um hospital ou centro. Contudo, um dos problemas no Brasil, nesta área, é que existem pouquíssimos centros que oferecem esse tipo de residência na área de física médica, mas há a esperança de que esse panorama possa mudar, já que foi lançado recentemente um edital, tendo em vista a possibilidade de serem oferecidas mais bolsas destinadas à residência; como informação complementar, essas residências têm uma carga horária pesada – cerca de 60 horas semanais –, o que demonstra o quanto um físico médico fica preparado para exercer sua atividade.

No Brasil, a demanda por esses profissionais está crescendo muito, mas ainda existem dois problemas que necessitam ser resolvidos: o primeiro, diz respeito à legislação, porque embora seja importante a ação do trabalho do físico médico, esta profissão tem ainda que ser reconhecida legalmente na área específica da radioterapia e essa falta de reconhecimento faz com que muitas clínicas e hospitais ainda prescindam da contratação desses profissionais, o que, para nossa entrevistada, é um erro. O segundo problema diz respeito aos próprios médicos, que são proprietários ou possuem cargos de administração em hospitais, que ainda não perceberam a importância de ter um físico médico ao seu lado, até para gerir e manusear, de forma correta, equipamentos que são extremamente sensíveis e fidedignos, dependendo deles e dos resultados alcançados o sucesso dos diagnósticos e tratamentos, tendo em vista o bem-estar dos pacientes. Fazendo uma comparação com a realidade norte-americana, nesta área o Brasil ainda está engatinhando.

Nos Estados Unidos, o físico médico é o profissional mais bem pago em todas as áreas da Física Aplicada e tem uma demanda muito grande. Por exemplo, no Brasil existem alguns (poucos) equipamentos de ressonância magnética e outros mais dedicados à medicina nuclear, enquanto que nos Estados Unidos existem largas centenas desses equipamentos que estão distribuídos pelos principais hospitais e clínicas. Por outro lado, no Brasil existe apenas um técnico – designado de Cientista Clínico – cuja sua missão – conjuntamente com os pesquisadores – é desenvolver protocolos específicos em ressonância magnética, principalmente no capítulo de geração de imagens: não só ele é o único no Brasil a fazer esse trabalho, como também ele é o único com essa especialidade abaixo da linha do Equador. Comparativamente, só nos Estados Unidos existem cerca de trinta cientistas clínicos para esse objetivo. Agora, imaginemos quantos equipamentos de ressonância magnética existem nos Estados Unidos e quantos existem no nosso país, sublinha a pesquisadora.

O programa Ciência às 19 Horas regressará em março de 2013 com uma programação ainda mais interessante, não só dedicada à comunidade acadêmica e científica, como também, e principalmente, dirigida à sociedade de São Carlos e região.

(Rui Sintra – Jornalista)

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