Palestra

16 de março de 2018

Profa. Lygia da Veiga Pereira (IB-USP) disserta sobre realidades e promessas das Células-Tronco

Decorreu no dia 21 de março, pelas 19 horas, no Auditório Prof. Sérgio Mascarenhas (IFSC-USP), a primeira edição de 2011 do já conhecido programa Ciência às 19 Horas, tendo como destaque a palestra intitulada Células-Tronco: Promessas e Realidade da Terapia Celular, ministrada pela pesquisadora Lygia da Veiga Pereira, do Instituto de Biociências da USP (*), que, de uma forma aberta e completamente decodificada, discutiu os rumos das pesquisas desenvolvidas na atualidade, além das perspectivas futuras e dos desafios desse novo tipo de tratamento.

Com efeito, para Lygia Pereira, a terapia celular vem ocupando, desde há alguns anos, um espaço enorme de divulgação, principalmente na mídia, e, segundo a palestrante, essa mídia tende a apresentar os pequenos avanços que foram feitos nessa área de uma forma muito sensacionalista, até porque existe uma expectativa muito grande da população e dos pacientes em terem resultados positivos e de essas promessas poderem virar realidade. Assim, segundo a pesquisadora, qualquer pequeno avanço é notícia de primeira página e isso faz com que a população – os leigos – tenha uma percepção de que a terapia com células-tronco já seja uma realidade e que já se encontre an execução tratamento para derrames, infartos e diabetes através desse procedimento. Na verdade, tudo isso é ainda uma promessa. Segundo Lygia, as únicas terapias que estão consolidadas, utilizando células-tronco, e que qualquer médico pode aconselhar, são os transplantes de medula óssea, um procedimento clínico que já é feito há cerca de cinqüenta anos; e o transplante de medula óssea é um transplante de células-tronco, células essas que são responsáveis pela fabricação do sangue. Então, quando alguém tem, por exemplo, uma leucemia, uma das formas de tratamento é através do transplante de medula óssea, e desde 950 que isso é feito: Por enquanto, esse é o único tratamento com células-tronco que é consolidado na medicina, esse é o único tratamento com base em células-tronco que um médico pode receitar para seu paciente. Tudo o resto, lesão de medula, doença cardíaca, AVC, ainda é experimental.

Segundo a pesquisadora, para a Doença de Parkinson, por exemplo, ainda se está na fase de testes em camundongos, enquanto que em outras doenças já se avançou um pouco mais, tendo-se entrado na fase de testes em humanos. Enfatizando o tema, Lygia refere que, de vez em quando, aparecem nos jornais – principalmente na TV -títulos como este: paciente cardíaco tratado com células-tronco sai da fila de transplantes. Para a pesquisadora, (…) essa noticia é maravilhosa, contudo, esse paciente faz parte de um grupo grande de pacientes que está sendo testado, ou seja, ele faz parte de um experimento. Um resultado positivo conta pouco, o que temos de ver é quantos pacientes melhoraram com a introdução das células-tronco versus os que não foram tratados com elas. Esse paciente melhorou por coincidência, por mero acaso, ou foi graças às células-tronco?… Tudo isto é muito mais complexo do que aquilo que a mídia divulga (…). Para nossa entrevistada, o importante é as pessoas saberem que, apesar de já se ter avançado muito em algumas áreas, o certo é que nenhum médico sério pode oferecer tratamentos com células-tronco para nenhuma das doenças que falamos atrás, porque isso ainda está em fase de experimentação, de pesquisa, sublinha Lygia Pereira.

Quando questionamos a pesquisadora sobre quanto tempo demorará até se conseguir ter respostas concretas, Lygia foi incisiva, ao referir que isso vai depender da área de pesquisa. Os tratamentos com células-tronco têm diferentes velocidades, conforme o tipo de doença. Por exemplo, no caso da diabetes auto-imune, em que o paciente tem essa doença porque seu sistema imunológico ataca suas células do pâncreas, o Prof. Júlio Voltarelli, da USP de Ribeirão Preto, está tendo resultados muito bons nos testes que estão sendo feitos em humanos, aplicando células-tronco. Então, o tratamento para esse tipo de doença está mais avançado, está mais próximo de uma realidade clínica. Contudo, a pesquisadora adverte: mas, atenção, estar mais próximo não significa que existe uma certeza de que esse tratamento vai virar uma realidade clínica. Contudo, esses estudos do Prof. Voltarelli estão, de fato, muito avançados e estão muito perto de virar tratamento. Outras doenças, como, por exemplo, lesão de medula e paralisia, nós ainda não vimos nenhum resultado animador nos testes feitos em humanos, refere Lygia. Foi aprovado, nos Estados Unidos, recentemente, um ensaio clínico utilizando células-tronco embrionárias e vamos ver se elas funcionam para esses tipos de doenças. As doenças do sistema nervoso são bem mais complexas, daí que você tenha velocidades diferentes na aplicação das células-tronco.

Lygia Pereira não arrisca dizer em quanto tempo se poderá ter respostas concretas e positivas na aplicação de células-tronco para determinadas doenças:

Há dez anos, eu dizia que demoraria dez anos para haver uma evolução concreta… E estamos neste estágio: hoje, eu não vou dizer que espero ter respostas positivas daqui a dez anos. Eu entendo a expectativa e urgência dos pacientes e de seus familiares, mas a pesquisa séria, além de ser audaciosa, tem que ser cautelosa e por isso eu digo que estamos na fase da promessa, bem embasada, com muitos testes promissores. Vamos aguardar, remata a conferencista.

(* Lygia da Veiga Pereira é professora associada e chefe do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias (LANCE) da USP)

Rui Sintra – Jornalista

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